"Em Angola, há dois pontos complicados que não vale a pena esconder, que são o ciclo de pagamentos e renegociação da dívida, no qual 2020 é um ano importante e o país não foi incluído nesta primeira lista de perdões de dívida que foram atribuídos pelo Banco Mundial e, por fim, não existe neste momento uma coisa inevitável que é um Plano Marshall para os países africanos", defendeu João Traça em entrevista à Lusa, referindo-se ao plano desenhado pelos Estados Unidos para reconstruir a Europa a seguir à Segunda Guerra Mundial.
"A economia de um país como Angola - muito dependente do petróleo, que está com um preço muito baixo - após a pandemia vai ter muita dificuldade em sobreviver se não tiver um bom apoio internacional, e há noção dos países europeus de que este plano será uma inevitabilidade para haver maneira de um país como Angola ter um 'outlook' mais favorável em termos de solvabilidade futura", acrescentou o advogado e presidente da CCIPA.
Angola é um dos países mais afetados em África pela conjugação da forte descida dos preços do petróleo com as medidas de isolamento social, com a generalidade dos analistas e das instituições financeiras a anteciparem mais um ano de recessão económica em 2020, o quinto consecutivo de crescimento negativo.
"O futuro de Angola está ligado à capacidade de atrair mais investimento direto estrangeiro, o que está relacionado com a capacidade de fazer alterações legislativas, e daí a importância da lei de proteção recíproca de investimento, que é muito importante para as empresas portuguesas porque torna os seus projetos mais bancarizáveis (comercialmente viáveis) sem necessitar de ter apoio do Estado português", acrescentou o líder da CCIPA.
Para João Traça, os tempos da pandemia de covid-19 são "momentos muito duros para ambas as economias, nenhuma está preparada para reagir uma pandemia como esta, mas no final deste período de confinamento temos de concluir que Portugal e Angola continuam a ser, do ponto de vista empresarial e para além disso, dois países que têm de ter uma parceria estratégica muito forte".
O 'novo normal' pós-pandemia, concluiu, "não pode deixar para trás esta relação" entre os dois países.
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 276 mil mortos e infetou mais de 3,9 milhões de pessoas em 195 países e territórios.
Para combater a pandemia, governos em todo o mundo mandaram para casa 4,5 mil milhões de pessoas (mais de metade da população do planeta), encerraram o comércio não essencial e reduziram drasticamente o tráfego aéreo, paralisando setores inteiros da economia mundial.
Face a uma diminuição de novos doentes em cuidados intensivos e de contágios, vários países começaram a desenvolver planos de redução do confinamento e em alguns casos a aliviar diversas medidas.