"Quero ser transparente e sincero: estou desapontado com a falta de ambição do lado do Reino Unido em algumas áreas", declarou Michel Barnier, falando em videoconferência de imprensa, a partir de Bruxelas.
Falando aos jornalistas depois de a UE e o Reino Unido se terem voltado a reunir esta semana à distância, a pensar na futura relação comercial de Bruxelas e Londres -- ainda incerta e sem acordo à vista, apesar do objetivo de conseguir progressos até junho --, o negociador comunitário lamentou que esta tenha sido uma "ronda de visões divergentes, sem qualquer progresso" em áreas como a da governança.
"A nossa discussão desta semana permitiu clarificar alguns assuntos importantes como o comércio de bens, os transportes e a participação do Reino Unido em futuros programas da UE e também permitiu alguns avanços na área das pescas", reconheceu Michel Barnier, apontando porém que, nesta última área, as posições comunitária e britânica ainda se mantêm "extremamente divergentes".
Mas além destas áreas, "não houve progressos nos outros assuntos", disse o negociador-chefe da UE, criticando que "o Reino Unido ainda não tenha entrado num verdadeiro diálogo sobre condições equilibradas" de acesso aos mercados.
E avisou: "Não vamos abdicar dos valores da UE em prol da economia britânica".
Já aludindo a alguns problemas técnicos que se registaram e atrasaram a conferência de imprensa, feita à distância e por meios digitais dada a pandemia, Michel Barnier ironizou que "também o 'Brexit' é uma escola de paciência".
A segunda ronda negocial entre os negociadores dos blocos comunitário, Michel Barnier, e britânico, David Frost, decorreu entre segunda-feira e hoje.
Estas discussões estiveram suspensas devido à pandemia de covid-19 -- desde logo por ambos os negociadores terem sido infetados pelo novo coronavírus -- e estão agora a ser realizadas por videoconferência, como já aconteceu na segunda ronda, na semana de 20 de abril, tendo em vista progressos palpáveis até junho, altura prevista para um balanço das discussões.
Entre os assuntos com mais divergências estão, então, o acesso equilibrado a ambos os mercados, a governança da futura parceria, a proteção dos direitos fundamentais e o setor das pescas.
Após a concretização do 'Brexit' em 31 de janeiro passado, a primeira ronda negocial sobre a futura relação decorreu em Bruxelas entre 02 e 05 de março e a segunda estava prevista para se realizar em Londres entre 18 e 20 de março, mas tal não aconteceu devido à pandemia.
Depois da ronda desta semana, as duas partes voltarão a reunir-se na semana de 01 de junho.
Também para junho continua a estar prevista uma cimeira de líderes para avaliar o progresso e decidir sobre uma eventual extensão do período de transição, que termina a 31 de dezembro.
O Governo britânico já reiterou que não pretende pedir um prolongamento.