Montenegro abre fronteiras mas proíbe entrada aos cidadãos da Sérvia

O Montenegro, o primeiro país europeu que se declarou livre do coronavírus, planeia abrir as suas fronteiras aos cidadãos de diversos países da Europa, mas não da antiga aliada Sérvia, suscitando hoje fortes protestos de Belgrado.

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Lusa
26/05/2020 14:15 ‧ 26/05/2020 por Lusa

Mundo

Covid-19

O primeiro-ministro do Montenegro indicou na segunda-feira que as fronteiras vão ser abertas a partir de 01 de junho para os cidadãos dos países que cumpram os critérios estabelecidos pelas autoridades de Saúde do pequeno Estado balcânico: registarem um máximo de 25 doentes com covid-19 por cada 100.000 habitantes.

O primeiro-ministro Dusko Markovic revelou que os países que cumprem esse critério são a Croácia, Eslovénia, Áustria, Alemanha, Polónia, República Checa, Hungria, Albânia e Grécia.

"Vamos abrir as fronteiras aos países que possuem um idêntico estatuto epidemiológico", disse. "Não vamos solicitar testes especiais, todos vão receber instruções claras sobre o que os espera no país e que regulamentos devem respeitar".

Markovic não mencionou a Sérvia, suscitando uma reação de Belgrado, apesar de a Sérvia não ter confirmado se cumpre os critérios definidos para a entrada no país vizinho.

Os sérvios são tradicionalmente assíduos visitantes do Montenegro, banhado pelo mar Adriático e muito dependente do turismo.

O ministro dos Negócios Estrangeiro sérvio, Ivica Dacic, definiu a decisão do Montenegro como "ridícula" e politicamente motivada, e a primeira-ministra sérvia, Ana Brnabic, considerou que demonstra que os sérvios não são bem-vindos no país vizinho. Ambos asseguraram que, de momento, a Sérvia não aplicará medidas de retaliação recíprocas.

O ministro da Defesa sérvio, Aleksandar Vulin, disse que a "proibição" montenegrina de entrada vai agravar o sentimento anti-sérvio.

"No Montenegro o Governo não está a combater o coronavírus, está a combater os sérvios", disse hoje Vulin.

O último caso de coronavírus no Montenegro remonta há três semanas, de acordo com os dados oficiais. No domingo, o país declarou-se livre da covid-19, tendo registado um total de 324 casos desde a deteção do primeiro, em 17 de março, e nove mortos.

"Somos o último país europeu que registou um 'primeiro caso' da covid-19 e o primeiro que conseguiu erradicar o vírus!", declarou na ocasião e em comunicado o ministro da Saúde, Kenan Hrapovic.

A Sérvia (7,5 milhões de habitantes) tem registados cerca de 11.000 casos e perto de 240 mortes.

As tensões entre o Governo montenegrino e Belgrado agravaram-se na sequência de uma lei adotada em finais de dezembro de 2019 pelo parlamento de Podgorica, considerada pela igreja ortodoxa sérvia como uma forma de expropriação das suas propriedades, incluindo igrejas e mosteiros.

A igreja ortodoxa sérvia, sediada em Belgrado, ainda permanece a principal instituição religiosa no Montenegro, que durante quase 90 anos esteve unido à Sérvia. Pelo menos 30% da população montenegrina identifica-se como sendo sérvia.

As questões identitárias há muito que dividem o Montenegro (631 mil habitantes), que tem eleições previstas para o outono, anunciou um censo populacional na primavera de 2021 e está perante a perspetiva de uma crise económica, num país muito dependente do turismo.

Na sequência da aprovação da polémica lei de 2019, as tensões prosseguiram durante o estado de emergência sanitária, com a Igreja a declarar-se discriminada pelas medidas de proteção contra o coronavírus. E neste período, diversos padres foram detidos por desrespeito das medidas sanitárias.

A atmosfera que se seguiu à adoção da lei sobre as liberdades religiosas faz regressar o país à época anterior ao referendo sobre a independência, em maio de 2006, quando o Montenegro do todo poderoso Presidente Milo Djukanovic decidiu romper com a Sérvia e aproximar-se do ocidente.

O Montenegro aderiu à NATO em junho de 2017 e iniciou as negociações de adesão à União Europeia em junho de 2012, um estatuto obtido posteriormente pela Sérvia.

O regime pró-ocidental de Podgorica tem ainda acusado Belgrado e Moscovo de tentativas de desestabilização, em particular após a decisão em aderir à aliança militar.

No início de maio, a ONG Freedom House alterou o estatuto do Montenegro de "democracia em transição" para "regime híbrido", como sucedeu em 2003, também justificado pelas recentes detenções de diversos ativistas da oposição por comentários emitidos nas redes sociais.

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 346 mil mortos e infetou mais de 5,5 milhões de pessoas em 196 países e territórios.

Quase 2,2 milhões de doentes foram considerados curados.

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