O primeiro-ministro do Montenegro indicou na segunda-feira que as fronteiras vão ser abertas a partir de 01 de junho para os cidadãos dos países que cumpram os critérios estabelecidos pelas autoridades de Saúde do pequeno Estado balcânico: registarem um máximo de 25 doentes com covid-19 por cada 100.000 habitantes.
O primeiro-ministro Dusko Markovic revelou que os países que cumprem esse critério são a Croácia, Eslovénia, Áustria, Alemanha, Polónia, República Checa, Hungria, Albânia e Grécia.
"Vamos abrir as fronteiras aos países que possuem um idêntico estatuto epidemiológico", disse. "Não vamos solicitar testes especiais, todos vão receber instruções claras sobre o que os espera no país e que regulamentos devem respeitar".
Markovic não mencionou a Sérvia, suscitando uma reação de Belgrado, apesar de a Sérvia não ter confirmado se cumpre os critérios definidos para a entrada no país vizinho.
Os sérvios são tradicionalmente assíduos visitantes do Montenegro, banhado pelo mar Adriático e muito dependente do turismo.
O ministro dos Negócios Estrangeiro sérvio, Ivica Dacic, definiu a decisão do Montenegro como "ridícula" e politicamente motivada, e a primeira-ministra sérvia, Ana Brnabic, considerou que demonstra que os sérvios não são bem-vindos no país vizinho. Ambos asseguraram que, de momento, a Sérvia não aplicará medidas de retaliação recíprocas.
O ministro da Defesa sérvio, Aleksandar Vulin, disse que a "proibição" montenegrina de entrada vai agravar o sentimento anti-sérvio.
"No Montenegro o Governo não está a combater o coronavírus, está a combater os sérvios", disse hoje Vulin.
O último caso de coronavírus no Montenegro remonta há três semanas, de acordo com os dados oficiais. No domingo, o país declarou-se livre da covid-19, tendo registado um total de 324 casos desde a deteção do primeiro, em 17 de março, e nove mortos.
"Somos o último país europeu que registou um 'primeiro caso' da covid-19 e o primeiro que conseguiu erradicar o vírus!", declarou na ocasião e em comunicado o ministro da Saúde, Kenan Hrapovic.
A Sérvia (7,5 milhões de habitantes) tem registados cerca de 11.000 casos e perto de 240 mortes.
As tensões entre o Governo montenegrino e Belgrado agravaram-se na sequência de uma lei adotada em finais de dezembro de 2019 pelo parlamento de Podgorica, considerada pela igreja ortodoxa sérvia como uma forma de expropriação das suas propriedades, incluindo igrejas e mosteiros.
A igreja ortodoxa sérvia, sediada em Belgrado, ainda permanece a principal instituição religiosa no Montenegro, que durante quase 90 anos esteve unido à Sérvia. Pelo menos 30% da população montenegrina identifica-se como sendo sérvia.
As questões identitárias há muito que dividem o Montenegro (631 mil habitantes), que tem eleições previstas para o outono, anunciou um censo populacional na primavera de 2021 e está perante a perspetiva de uma crise económica, num país muito dependente do turismo.
Na sequência da aprovação da polémica lei de 2019, as tensões prosseguiram durante o estado de emergência sanitária, com a Igreja a declarar-se discriminada pelas medidas de proteção contra o coronavírus. E neste período, diversos padres foram detidos por desrespeito das medidas sanitárias.
A atmosfera que se seguiu à adoção da lei sobre as liberdades religiosas faz regressar o país à época anterior ao referendo sobre a independência, em maio de 2006, quando o Montenegro do todo poderoso Presidente Milo Djukanovic decidiu romper com a Sérvia e aproximar-se do ocidente.
O Montenegro aderiu à NATO em junho de 2017 e iniciou as negociações de adesão à União Europeia em junho de 2012, um estatuto obtido posteriormente pela Sérvia.
O regime pró-ocidental de Podgorica tem ainda acusado Belgrado e Moscovo de tentativas de desestabilização, em particular após a decisão em aderir à aliança militar.
No início de maio, a ONG Freedom House alterou o estatuto do Montenegro de "democracia em transição" para "regime híbrido", como sucedeu em 2003, também justificado pelas recentes detenções de diversos ativistas da oposição por comentários emitidos nas redes sociais.
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 346 mil mortos e infetou mais de 5,5 milhões de pessoas em 196 países e territórios.
Quase 2,2 milhões de doentes foram considerados curados.