"Há três meses que estava à espera disto. Para mim, já é o meu segundo café do dia", afirmou à Lusa Raphael, estudante parisiense que hoje de manhã fez o pleno das esplanadas no 16.º bairro.
Um pouco por toda a cidade, vários bares e restaurantes abriram as suas esplanadas após quase três meses de inatividade total. No entanto, houve medidas especiais a ter em conta, nomeadamente as medidas de distanciamento social e a proibição de mais de 10 pessoas numa única mesa.
Extraordinariamente, a Câmara Municipal de Paris deixou os cafés e restaurantes alargarem as esplanadas e ocupar os passeios com mais mesas e cadeiras, sendo apenas necessária uma declaração dos proprietários.
O regresso esta terça-feira às esplanadas foi em força, mas ainda sem o número habitual de pessoas que trabalham na cidade e os turistas que vêm de fora.
"O almoço passou bem, bastante bem, porque enchemos a esplanada e agora vamos ver se para o aperitivo os vizinhos também vêm. Por outro lado, as pessoas que vêm das empresas aqui à volta ainda não voltaram ao trabalho, portanto temos apenas 25% da nossa clientela habitual", explicou à Lusa Pascal, proprietário do restaurante "Le Cafe Populaire", perto da Bastilha.
Com uma grande esplanada, este comerciante espera, mesmo limitado à abertura do espaço exterior, conseguir voltar à dinâmica positiva do negócio antes do confinamento.
"Fizemos renovações recentemente e tivemos só um mês e meio de exploração depois das obras. O plano de ajuda ao comércio permitiu-nos atrasar o pagamento dos nossos créditos. O grande impacto foi que quebrou a nossa dinâmica de reabertura e esperamos agora voltar a essa dinâmica positiva", indicou.
O Governo francês permitiu durante o confinamento que o pagamento de alugueres e contas de água e luz, assim como créditos, fossem adiados aos bares e restaurantes pelo menos durante seis meses.
O primeiro-ministro, Édouard Philippe, afirmou hoje na Assembleia Nacional que os apoios ao setor da restauração em França "podem prolongar-se até ao final do ano".
A par da reabertura das esplanadas, também passaram a ser possíveis deslocações a mais de 100 quilómetros sem necessidade de justificação, o que levou muita gente a encher as gares parisienses para partir de comboio.
"Tenho agora uma pausa nos estudos e vou visitar a minha prima que vive em Montpellier. Vou aproveitar para sair porque depois vou começar um estágio numa empresa em Paris", explicou Fatumata, que aguardava o seu comboio de alta velocidade na Gare de Lyon.
Esta estudante passou o confinamento em Paris e vai em busca de "férias de praia" depois de quase três meses "bloqueada" na capital.
Poder partir é também uma das medidas mais aguardadas por Margot, que aproveitou o final do dia para beber uma cerveja com as amigas junto ao Port de l'Arsenal, um canal que vai dar ao rio Sena.
"A esplanada era uma das coisas mais importantes [no pós-confinamento], tal como a regra dos 100 quilómetros. Somos estudantes, acabámos as aulas e é assim que gostamos de passar o nosso tempo", sublinhou.
E esta parisiense já prepara o verão.
"Não vamos para o estrangeiro, vamos ficar todos em França. Mesmo viajar para a Europa não sei, já que, no fim de contas, há tantas medidas diferentes que pode ser complicado partir", disse.
Já o verão é uma fonte de preocupações para quem está a tentar recuperar o negócio.
"O verão pode ser muito complicado, porque Paris fica uma cidade muita calma e caso não haja turistas estrangeiros para compensar, vamos ter dias difíceis", concluiu Pascal.
Os bares, cafés e restaurantes parisienses devem reabrir totalmente a partir de 22 de junho, tendo em conta a circulação do vírus na região de Île-de-France, na capital francesa.