Desde terça-feira, várias cidades senegalesas têm sido palco de manifestações contra o estado de emergência, o recolher obrigatório e a proibição de circulação entre regiões, medidas decretadas para conter a covid-19 no país, que regista 3.923 casos, 45 mortes e 2.063 doentes recuperados.
As manifestações começaram nas cidades de Thiès, Touba e Mbacké, onde jovens que afirmam ser transportadores queimaram pneus e ergueram barricadas nas principais estradas para apelar ao fim das medidas de proibição dos transportes entre cidades e manifestar a sua revolta por terem ficado sem meios de subsistência.
Durante a noite, os protestos, em que houve confrontos com a polícia, também se espalharam por Dacar, e outras cidades como Mbour, Saly, Tambacounda, Kaffrine ou Kaolack.
"Estamos cansados de ficar em casa", foi uma das frases gritadas durante as manifestações contra o recolher obrigatório, que tiveram lugar nos bairros mais populosos de Dacar e onde a polícia utilizou gás lacrimogéneo para dispersar a multidão.
"Estamos fartos. As autoridades viajam de noite porque partilham os passes. Entretanto, nós, os pobres, somos obrigados a fechar-nos nas nossas casas das nove da noite às cinco da manhã", disse um manifestante, citado pelo jornal Sud Quotidien.
"Nós nem sequer temos o suficiente para comer, ou para sustentar as nossas famílias. Não somos funcionários públicos. Isto tem de acabar e (...) o Presidente da República tem de falar com o povo", disse outro dos manifestantes ao mesmo jornal.
Segundo o jornal Tribune, em Kaolack, um jovem de 23 anos foi gravemente ferido pelo impacto de um veículo policial e corre risco de vida no hospital.
Em Touba e Mbacké, as instalações da Companhia Nacional de Electricidade do Senegal e as da estação de rádio RFM de Mbacké, que pertence ao grupo de comunicação fundado pelo cantor Youssou N'Dour, foram vandalizadas.
Do mesmo modo, em Touba, três veículos de intervenção policial e uma ambulância foram queimados e um centro de tratamento de doentes da covid-19 atacado, segundo um funcionário senegalês, citado na rádio sob condição de anonimato.
Hoje, o Governo senegalês anunciou o alívio do recolher obrigatório noturno e o reinício dos transportes entre cidades.
O início do recolher obrigatório, anteriormente estabelecido para as 21:00 (locais e GMT), foi adiado para as 23:00.
"A partir de hoje, será aplicado o levantamento das restrições aos transportes em todo o território nacional com a manutenção do recolher obrigatório das 23:00 às 05:00 da manhã", anunciou o ministro do Interior, Aly Ngouille Ndiaye, num discurso transmitido na televisão pública deste país, que faz fronteira com a Guiné-Bissau.
"As reuniões em locais públicos ou privados, restaurantes, pavilhões desportivos e casinos beneficiarão das mesmas medidas de relaxamento", acrescentou.
No Senegal, as medidas adotadas desde março para conter a propagação do novo coronavírus tem vindo a gerar um descontentamento crescente, afetando particularmente as camadas mais desfavorecidos, num país onde 40% da população vive abaixo do limiar de pobreza e onde muitos vivem da economia informal, segundo o Banco Mundial.
O Senegal é o quarto país da África Ocidental com maior número de casos confirmados.
No total dos 15 países, a África Ocidental regista 758 mortos e 37.690 infeções.
O número de mortos em África devido à covid-19 subiu hoje para 4.601, mais 108, em mais de 162 mil casos, nos 54 países, segundo os dados da pandemia no continente.
De acordo com o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (África CDC), o número de mortos passou de 4.493 para 4.601 (+108), enquanto o de infetados subiu de 157.322 para 162.673 (+5.351).
Os mesmos dados referem que o número de doentes recuperados passou os 70 mil (70.475), mais 3.468 do que no dia anterior.
O primeiro caso de covid-19 em África surgiu no Egito em 14 de fevereiro e a Nigéria foi o primeiro da África subsaariana a registar casos de infeção, em 28 de fevereiro.
A nível global, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 382 mil mortos e infetou mais de 6,4 milhões de pessoas.
Mais de 2,7 milhões de doentes foram considerados curados.