O presidente brasileiro anunciou este sábado que a forma como as estatísticas relativas à pandemia do novo coronavírus no Brasil são apresentadas serão alteradas, em prol de uma melhor representação do "momento do país". Não é ainda conhecido o novo formato de apresentação de mortes e de casos de infeção, naquele que é o país lusófono mais afetado pela pandemia e um dos mais atingidos no mundo, mas a ideia será apresentar apenas dados diários.
"Ao acumular dados, além de não indicar que a maior parcela já não está com a doença, não retratam o momento do país. Outras ações estão em curso para melhorar a notificação dos casos e confirmação de diagnósticos", escreveu Jair Messias Bolsonaro, numa sequência de publicações no Twitter, onde foi feito um ponto de situação.
Esta anúncio surge depois de uma semana em que a apresentação do boletim diário do Ministério da Saúde foi errática, tendo sido atrasado duas horas, sem explicação, e depois, na sexta-feira, quatro horas [para as 22 horas locais, já na madrugada de sábado em Lisboa].
3- Ao acumular dados, além de não indicar que a maior parcela já não está com a doença, não retratam o momento do país. Outras ações estão em curso para melhorar a notificação dos casos e confirmação diagnóstica.
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) June 6, 2020
"Para evitar subnotificação e inconsistências, o Ministério da Saúde optou pela divulgação às 22h [hora local]", acrescentou o presidente brasileiro, explicando que, na "divulgação entre 17h e 19h, ainda havia risco subnotificação". Bolsonaro indicou, ainda, que "a divulgação dos dados de 24 horas permite acompanhar a realidade do país neste momento e definir estratégias adequadas para o atendimento a população", sublinhando que o processo de apuramento de dados está a ser alvo de ajustes.
Até sexta-feira, os números eram apresentados na página oficial no Ministério da Saúde, que [no momento de publicação desta notícia] apresenta a mensagem "portal em manutenção", e na conta de Twitter da mesma instituição. A primeira plataforma deixou ontem de apresentar os números totais de mortes, sendo que a segunda já o tinha feito há vários dias, apresentando apenas o "placar da vida", com números de recuperados, em recuperação e total de infetados. Esperam-se, agora, novas ocultações de dados.
De acordo com a Folha de São Paulo, esta mudança na apresentação dos dados "pode significar, na prática, a divulgação de números menores", sendo que a administração brasileira já é alvo de críticas por causa da baixa testagem praticada no país, levando os especialistas de saúde a acreditar que os números são bastante maior do que o que foi notificado até aqui.
A mesma publicação avança que estão a ser preparadas ações judiciais junto do Supremo Tribunal Federal "para garantir a transparência sobre a realidade da pandemia".
Esta alteração também foi relacionada com a intenção de impedir que o balanço de infeções e mortes seja divulgado nos noticiários noturnos da rede Globo, que têm a maior audiência do país, e nas edições impressas dos jornais brasileiros. Na sexta-feira, em declarações aos jornalistas, o próprio Jair Bolsonaro disse que, com a mudança, a rede Globo deixaria de ser a "TV Funeral".
O Brasil contabiliza - segundo os dados reportados até sexta-feira - 645.771 casos de infeção confirmados e 35.026 mortes associadas à doença, sendo que desde do dia 2 de junho que o registo diário de óbitos foi, consecutivamente, superior a mil.