"São os recursos naturais que inflamaram ou desencadearam o extremismo violento no norte de Moçambique", disse o investigador durante uma conferência realizada em formato virtual, remetendo mais detalhes para a publicação, em breve, de um relatório sobre esta questão.
O seminário virtual, sobre o 'Impacto da Covid-19 no crime organizado transnacional na África Oriental', juntou um conjunto de analistas, tendo Martin Ewi rejeitado a ideia de que a pandemia propicia o aumento do crime organizado.
"O senso comum diria que a pandemia é uma oportunidade para o terrorismo e para os grupos violentos ganharem fôlego, baseado na assunção de que os Estados africanos estão a redirecionar esforços para combater a pandemia e deixam espaço que os grupos extremistas podem explorar", afirmou Martin Ewi.
No entanto, o investigador acrescentou: "Não há estudos que provem que seja por causa da oportunidade apresentada pela covid-19 que os ataques aumentem, o terrorismo segue uma curva irregular com períodos de muitos e poucos ataques, mas não há evidência concreta para afirmar isso, nós não sabemos, na verdade, como a covid-19 afetou a evolução do terrorismo".
Sobre a violência em Moçambique, Martin Ewi destacou que "a ameaça violenta islâmica é arrebatadora, com ataques e pela evolução no país, para além da aliança com o Estado Islâmico, que está também a tentar voltar a conquistar o Sinai, no Egito, aproveitando o foco do Governo local no combate à pandemia".
A nível mundial, ainda assim, a tendência de evolução dos ataques terroristas é decrescente, concluiu o analista: "Os Estados estão mais focados nos ataques e, globalmente, a tendência é para um declínio do número mundial nos últimos anos, apesar do aumento de alguns 'pontos quentes' em África, que aumentaram, com a pandemia, o nível de alarme".
Cabo Delgado, província moçambicana onde avança o maior investimento privado de África para exploração de gás natural, está sob ataque desde outubro de 2017 por insurgentes, classificados desde o início do ano pelas autoridades moçambicanas e internacionais como uma ameaça terrorista.
Em dois anos e meio de conflito, estima-se que já tenham morrido, no mínimo, 600 pessoas e que cerca de 200 mil já tenham sido afetadas, sendo obrigadas a refugiar-se em lugares mais seguros, perdendo casa, hortas e outros bens.
Em África, há 5.334 mortos confirmados e cerca de 196 mil infetados em 54 países, segundo as estatísticas mais recentes sobre a pandemia no continente.
A pandemia de covid-19 já provocou mais de 406 mil mortos e infetou mais de 7,1 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo o balanço feito pela agência francesa AFP.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
Depois de a Europa ter sucedido à China como centro da pandemia em fevereiro, o continente americano passou a ser o que tem mais casos confirmados, embora com menos mortes.