Acompanhados pelos seus advogados, elementos da Comissão "Verdade e Justiça para as Vítimas da Covid-19", criada no Facebook e que conta 55.000 membros, apresentaram 50 queixas ao Ministério Público de Bérgamo, a cidade da Lombardia que foi o epicentro da epidemia em Itália entre o início de fevereiro e maio.
"Não queremos vingança, queremos justiça", disse um dos fundadores do grupo, Stefano Fusco, 31 anos, cujo avô morreu em março.
As queixas foram apresentadas em Bérgamo por ser o "símbolo da tragédia que afetou todo o país", afirmou Fusco, citado pela agência noticiosa francesa AFP.
Nas queixas, os autores apresentam os dramas vividos por cada uma das famílias individualmente, como falta de informação, maus cuidados ou o tratamento dado aos doentes.
O Ministério Público decidirá então se deve ou não instaurar um processo e, em caso afirmativo, como classificar os factos.
Cristina Longhini, uma farmacêutica, contou que perdeu o pai, de 65 anos, que estava "em grande forma quando foi infetado" e morreu num hospital em Bérgamo.
Inicialmente, as urgências recusaram-se a admitir o pai da farmacêutica, porque "não estava com dificuldades respiratórias" e no hospital exclusivo para a covid-19 em Bérgamo não havia camas disponíveis nos cuidados intensivos.
"E quando ele morreu, esqueceram-se de nos chamar. Fui finalmente identificar o seu corpo, ele mal era reconhecível, a boca aberta, os olhos inchados das suas órbitas, com lágrimas de sangue", descreveu Cristina Longhini.
"Deram-me os seus pertences pessoais, incluindo roupas ensanguentadas - e, portanto, contaminadas - num saco do lixo", contou.
Como os cemitérios locais estavam cheios, o seu caixão foi transportado, juntamente com outros, num camião militar para um destino desconhecido da família, que finalmente descobriu que o corpo tinha sido cremado a 200 quilómetros de distância quando recebeu a conta da funerária pelo correio.
Itália é um dos países mais atingidos pela pandemia de covid-19, uma doença detetada inicialmente numa cidade chinesa, em dezembro do ano passado, e que já matou cerca de 408 mil pessoas no mundo.