Professor de ciências políticas na universidade hebraica de Jerusalém, Zeev Sternhell não gostava de ficar isolado na academia e envolveu-se na vida da cidade e no movimento de paz com os vizinhos árabes e palestinianos.
Em setembro de 2008 foi atingido na perna direita por um estilhaço de uma bomba que explodiu quando fechava a cerca da sua residência.
"O problema não é Zeev Sternhell ou um ataque contra a pessoa de Zeev Sternhell, é um problema da sociedade, é um problema político. A nossa sociedade está a tornar-se cada vez mais violenta", declarou na altura a centenas de pessoas que vieram ter com ele para lhe demonstrar apoio após o incidente.
O historiador participou na guerra do Yom Kipur em 1973 antes de cofundar a organização não-governamental Paz Agora, favorável a um acordo de paz entre Israel e o Egito.
O Tratado de Paz israelo-egípcio foi assinado em 1979 e a ONG Paz Agora está atualmente envolvida no combate ao desenvolvimento dos colonatos israelitas, questão sensível e que tem feito manchetes nas últimas semanas devido ao projeto do governo de Israel de anexar partes da Cisjordânia ocupada.
"Ele foi o exemplo de uma pessoa que conseguiu combinar excelência académica e um compromisso profundo com a nossa sociedade e o nosso país", sublinhou hoje a sua universidade.
"Na sua infância, Sternhell viveu a terrível experiência do fascismo e ao longo da sua vida teve a coragem e a força para o combater. Durante décadas foi uma voz fundamental pelos direitos dos palestinianos e contra a ocupação dos territórios", saudou Ayman Odeh, líder da Lista Única dos partidos árabes israelitas.
Zeev Sternhell nasceu numa família judia da Polónia. O seu pai, que combatia no exército polaco, morreu no início da guerra e a sua mãe e irmã foram mortas pelos nazis.
Para que sobrevivesse, os tios fizeram-no passar por católico, numa altura em que os judeus eram perseguidos e eram construídos na Polónia campos de extermínio.
Após a guerra, o jovem adolescente encontra refúgio em França, que se torna a sua pátria intelectual de adoção e objeto da sua investigação, antes de viajar para Israel logo após a sua criação em 1948.
Dedicou parte da sua obra à história da extrema-direita francesa com ensaios como "Nem direita nem esquerda: a ideologia fascista em França" ou "História reprimida -- La Rocque, os Croix de feu e o fascismo francês", publicado em 2019.
François de La Roque foi o líder do movimento político francês de direita Croix de Feu entre 1930 e 1936.
Sternhell interessava-se pelas "raízes francesas do fascismo" e propunha um "exame de consciência" à França sobre este assunto doloroso, disse à agência France Presse o seu antigo aluno Denis Charbit, que recordou um professor "muito exigente", mas também "atento" aos seus melhores alunos.