O grupo NSO, empresa israelita especializada na espionagem informática, produz nomeadamente o Pegasus, um programa que permite não só aceder aos dados de um 'smartphone', como também controlar a câmara ou o microfone.
Segundo a AI, as autoridades marroquinas utilizaram o Pegasus para espiar o telefone de Omar Radi, um jornalista marroquino.
A NSO declarou-se "profundamente perturbada pelas alegações".
"É claro que não podemos confiar no grupo NSO. Enquanto a empresa tenta branquear a sua imagem com uma campanha de relações públicas, os seus programas permitem espiar ilegalmente o jornalista Omar Radi", declarou Danna Ingleton, diretora adjunta da Amnistia Tech, num comunicado da organização.
Numa resposta escrita às perguntas da agência France-Presse, a empresa israelita declarou que não podia comentar "as ligações que a NSO poderá ter com as autoridades marroquinas" por razões de confidencialidade, mas que analisava as questões levantadas pela Amnistia.
"Será aberto um inquérito se o considerarmos justificado", afirmou a companhia.
"A NSO é a primeira empresa deste tipo a fornecer um programa para a aplicação dos princípios orientadores das Nações Unidas sobre empresas e direitos humanos", adiantou.
Radi foi "sistematicamente alvo das autoridades marroquinas devido ao seu jornalismo e militância", segundo a AI.
Em março, um tribunal marroquino condenou Radi a quatro meses de pena suspensa por ter criticado na rede social Twitter a sentença de um juiz condenando ativistas. O jornalista disse à AFP após o veredicto que iria recorrer.
"Embora as autoridades marroquinas sejam responsáveis pela espionagem ilegal de militantes e de jornalistas como Omar Radi, o grupo NSO contribuiu para estes abusos ao ter o governo marroquino como cliente pelo menos até janeiro de 2020", indicou a Amnistia.
A AI pediu a um tribunal israelita para revogar a licença de exportação do Ministério da Defesa da empresa NSO após os casos de pirataria informática.
O processo está em curso e a organização de defesa dos direitos humanos disse hoje que espera uma decisão em breve.
No final de 2019, a empresa norte-americano de mensagens encriptadas WhatsApp, propriedade do Facebook, apresentou queixa contra a NSO, acusando-a de ter fornecido a tecnologia para infetar os 'smartphones' de uma centena de jornalistas, defensores dos direitos humanos e outros membros da sociedade civil em diferentes países.
Criada em 2010 pelos israelitas Shalev Hulio e Omri Lavie e localizada em Herzliya, perto de Telavive, a empresa NSO afirmou em maio que a sua tecnologia é "comercializada através de licenças a governos com o único objetivo de combater a criminalidade e o terrorismo".