"Não podemos continuar em silêncio: a razão do confinamento (dos campos) não pode ser associada à saúde pública", disse o coordenador da Médicos Sem Fronteiras (MSF) no campo de acolhimento de refugiados de Moria (na ilha de Lesbos), Marco Sandrone, em declarações à agência France Presse (AFP).
O representante frisou que "nenhum caso positivo" de infeção pelo novo coronavírus foi diagnosticado naquele campo, considerado o maior da Europa e onde as condições de vida e sanitárias são muito débeis.
"As pessoas nos campos não representam uma ameaça", mas são, pelo contrário, "uma população em risco que deve ser retirada do campo" o mais rápido possível, frisou o representante da MSF, criticando a continuação do confinamento "com a desculpa e a justificação da saúde pública".
"Trata-se de uma retórica extremamente perigosa", afirmou Marco Sandrone, uma vez que os migrantes "correm o risco de ser ainda mais estigmatizados por causa do coronavírus".
Além disso, sublinhou o coordenador da MSF, "a ameaça vem de fora", principalmente com as novas chegadas procedentes da Turquia.
"Sem uma resposta eficaz a longo prazo (...), o risco é importar casos positivos para o campo de Moria", disse o responsável.
Uma refugiada afegã, Nasrin Hassani, grávida de oito meses, disse à AFP que "reza para que o vírus não entre" no sobrelotado campo de Moria.
"Se uma única pessoa aqui apanhar o vírus, podem ter a certeza de que todo o campo irá morrer porque não há médicos suficientes, não há equipamento suficiente para controlar qualquer coisa", acrescentou esta requerente de asilo que está a viver em Moria há cerca de oito meses.
O Governo da Grécia anunciou no sábado que ia prolongar, pela quarta vez, o confinamento dos campos migratórios erguidos naquele país até 05 de julho.
A medida já tinha sido prolongada em outras três ocasiões: 10 de maio, 21 de maio e 07 de junho.
A 21 de março, as autoridades helénicas impuseram restrições de movimento aos migrantes instalados nos vários campos de acolhimento nas ilhas gregas e no território continental grego.
Poucos dias depois, em 23 de março, as autoridades decretaram o confinamento da população em geral, medida que seria mantida até 04 de maio.
Com 190 mortes associadas ao novo coronavírus, a Grécia está entre os países europeus menos afetados pela atual pandemia.
Entre os migrantes, nenhuma morte pela doença covid-19 foi registada e apenas algumas dezenas de casos de infeção foram relatados, segundo as autoridades.
Mais de 33 mil requerentes de asilo vivem nos campos de processamento e de acolhimento para migrantes nas ilhas gregas no Mar Egeu (Lesbos, Chios, Samos, Kos e Leros), também conhecidos como 'hotspots', que têm uma capacidade para apenas cerca de 5.400 pessoas.
Outros 70 mil migrantes e refugiados estão a viver em instalações no território continental grego.