A morte a tiro, na segunda-feira, em Adis Abeba, do cantor Hachalu Hundessa, de etnia oromo, desencadeou uma onda de protestos em várias cidades da Etiópia, sobretudo na região de Oromia, de que já resultaram mais de 80 mortos, segundo relatos da comunicação social.
"Registamos com preocupação que os protestos que se seguiram ao assassínio de Hundessa assumiram cada vez mais um tom étnico. Assim, apelamos a todos, incluindo os jovens, para que parem com os ataques por motivos étnicos e deixem de incitar à violência", disse o porta-voz do gabinete da Alta-Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos (OHCHR, na sigla em inglês), Rupert Colville.
Rupert Colville citou informações que dão conta de bloqueio de estradas e edifícios vandalizados e queimados, na maior parte da região de Oromia, e de tiroteios e explosões de bombas em Adis Abeba.
Alguns protestos foram reprimidos de forma violenta pelas forças de segurança e o Governo determinou o corte dos serviços de internet.
"Instamos igualmente as forças de segurança a exercerem contenção na gestão dos protestos e a absterem-se de utilizar força desnecessária ou desproporcionada", prosseguiu o porta-voz de Michelle Bachelet.
Segundo o OHCHR, o fecho dos serviços de internet "é particularmente preocupante, pois restringe desproporcionadamente o gozo do direito à liberdade de expressão, e arrisca exacerbar ainda mais as tensões".
Por isso, as Nações Unidas exortam as autoridades a restabelecer os serviços de internet o quanto antes.
"As autoridades responderam à propagação dos protestos fechando a internet na região de Oromia, bem como em Adis Abeba, tornando extremamente difícil a verificação dos relatórios sobre o número de pessoas mortas e feridas", apontou Rupert Colville.
Segundo o Governo, cerca de 50 pessoas foram mortas, enquanto fontes dos meios de comunicação social indicam mais de 80, incluindo três membros das forças de segurança.
A ONU diz ainda ter indicações de que 35 pessoas terão sido presas pelas forças de segurança, na terça-feira à noite, durante um protesto sobre o local do funeral de Hundessa.
De acordo com a polícia, os manifestantes, que queriam que o cantor fosse enterrado em Adis Abeba, tentaram, sem sucesso, impedir que o seu corpo fosse levado para a sua cidade natal de Ambo, onde o funeral foi realizado na quinta-feira.
As autoridades anunciaram, entretanto, a detenção dos suspeitos do assassínio do cantor.
"É essencial que haja uma investigação rápida, exaustiva, independente, imparcial e transparente da sua morte, para garantir que os responsáveis sejam responsabilizados", disse Rupert Colville.
O gabinete da Michelle Bachelet disponibilizou ainda apoio à Comissão Etíope dos Direitos Humanos para a investigação de potenciais violações dos direitos humanos durante os protestos.
Hachalu Hundessa era considerado a voz do povo oromo, o maior grupo étnico da Etiópia, e o compositor desempenhou um papel importante na ascensão ao poder, em 2018, do atual primeiro-ministo Abiy Ahmed, também de etnia oromo.
A chegada de Abyi à chefia do Governo pôs fim a décadas em que a coligação governamental multiétnica foi dominada por líderes da minoria tigray.
Até então, os oromo queixavam-se tradicionalmente da marginalização política e económica.
Abiy Ahmed, 43 anos, impulsionou grandes reformas na Etiópia, o segundo país mais populoso de África, no entanto, tem sido criticado por não conseguir resolver as tensões étnicas que têm causado ondas de violência no país.