Num discurso à nação, o Presidente sul-sudanês, Salva Kiir, que lidera o país desde a independência, em 2011, afirmou que a pandemia da covid-19, provocada por um novo coronavírus, limitou as cerimónias marcadas para hoje, apesar de estas terem sido marcadas após a formação do Governo de união nacional, em fevereiro.
"Tal como em anos anteriores, em que a guerra que agora terminou não nos permitiu realizar celebrações públicas, este ano a celebração foi afetada pela pandemia do coronavírus", disse Kiir, que acrescentou que, "face ao perigo global", o seu Governo reconheceu que "estes não são tempos normais".
Salva Kiir afirmou também que a pandemia perturbou o processo de paz com os grupos rebeldes que não aderiram ao pacto de 2018 entre Kiir e o principal grupo armado, liderado por Riek Machar.
No entanto, Kiir sublinhou que o cessar-fogo em vigor há dois anos está a ser respeitado e que este é "um feito" para um país envolvido numa guerra quase interrupta desde o final de 2013, quando o Presidente acusou Machar de orquestrar um golpe de Estado.
O atual chefe de Estado do país reconheceu que a violência comunitária representa uma nova ameaça para o país, uma vez que tem surgido em várias áreas do Sudão do Sul desde o início do ano, tendo prometido iniciar um processo de diálogo e de desarmamento da população civil.
A oposição sudanesa, que desde fevereiro partilha o poder com Kiir, considera que a guerra que começou dois anos depois da independência do Sudão do Sul "criou desconfiança entre cidadãos e líderes políticos".
"Como oposição, vamos trabalhar para restabelecer a dignidade das pessoas com serviços [públicos] e construir o país que tanto desejam", afirmou Sandy Peter, um dos responsáveis do lado de Machar, à agência noticiosa Efe.
No entanto, a reconstrução do país e das instituições do Estado está a ser lenta e complexa devido à falta de fundos e às rivalidades existentes entre as duas partes, que não cumpriram todos os pontos do acordo de paz, como a formação de um exército nacional.
Em 09 de julho de 2011, o Sudão do Sul formalizou a sua independência, meses depois de, em janeiro, 98,83% dos sudaneses no sul do país terem concordado com a separação de Cartum.
O Sudão do Sul, com maioria de população cristã, obteve a sua independência ao separar-se do Norte árabe e muçulmano em 2011. No entanto, a partir do final de 2013, o país entrou num conflito civil, provocado pela rivalidade entre o Presidente, Salva Kiir, e o seu então vice-presidente, Riek Machar.
As partes formaram um Governo de unidade nacional em 2016, que caiu poucos meses após a formação devido a um reinício da violência, tendo essa sido a primeira tentativa de pacificação do jovem país africano.
Em fevereiro, Kiir e Machar oficializaram uma reconciliação, estabelecendo um Governo conjunto.
De acordo com os dados mais recentes, o Sudão do Sul registou 2.113 casos de infeção pelo novo coronavírus, incluindo 40 mortes devido à covid-19.
Em África, há 12.206 mortos confirmados em mais de 522 mil infetados em 54 países, segundo as estatísticas mais recentes sobre a pandemia no continente.
A pandemia de covid-19 já provocou mais de 549 mil mortos e infetou mais de 12 milhões de pessoas em 196 países e territórios, aponta um balanço feito pela agência francesa AFP.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.