Dando um sinal de que queriam evitar confrontos com a polícia, centenas de manifestantes permaneceram sentados durante várias horas em frente ao parlamento da Sérvia, presenciou um fotojornalista da agência de notícias EFE.
Alguns manifestantes empunhavam faixas onde se lia "Sente-se, não caia na armadilha", numa alusão às provocações de manifestantes radicais que causaram graves distúrbios, dos quais resultaram dezenas de feridos e detidos.
A polícia sérvia não foi destacada para a manifestação de hoje, onde algumas pessoas, aparentemente extremistas de direita, tentaram causar distúrbios lançando petardos, garrafas, latas e tochas, em protesto contra a forma pacífica da manifestação.
Hoje, as autoridades sérvias proibiram os ajuntamentos com mais de dez pessoas na capital Belgrado, após duas noites de violentos confrontos entre a polícia e milhares de manifestantes que protestavam contra novas medidas de confinamento devido à covid-19.
Além da limitação de ajuntamentos, foi ordenada a redução do horário de comércio em espaços fechados, como cafés, centros comerciais ou lojas.
"O sistema de saúde em Belgrado está à beira da rutura", admitiu a primeira-ministra sérvia, Ana Brnabic, que acrescentou: "É por isso que não podemos entender o que se passou na última noite e na noite anterior".
Os confrontos seguiram-se a um anúncio emitido pelo Presidente Aleksandar Vucic no início da semana sobre a necessidade de novas medidas de confinamento devido a uma intensificação do surto da pandemia do novo coronavírus no país.
Vucic tem sido acusado pelos setores da oposição na Sérvia de ter permitido que a crise ficasse descontrolada ao promover eleições legislativas em 21 de junho que reforçaram o seu poder quase incontestado.
Na terça-feira, o Ministério da Saúde revelou que 13 pessoas morreram nas últimas 24 horas na Sérvia e confirmou 299 novos casos da covid-19.
Estes dados elevaram para 16.719 os casos confirmados, incluindo 330 mortos, desde o início da pandemia na Sérvia, que registou um recolher obrigatório dos mais rigorosos em toda a Europa, até uma reabertura quase total no início de maio.
Diversas partidas de ténis e de futebol decorreram em recintos lotados e as legislativas foram convocadas e realizadas, apesar dos alertas de peritos sobre as concentrações de pessoas sem distanciamento social que poderiam fomentar uma nova vaga do coronavírus.
Apesar de as novas medidas do Governo não incluírem uma nova imposição do recolher obrigatório, admitido inicialmente, a limitação dos ajuntamentos equivale na prática a uma proibição dos protestos.
Nas duas últimas noites, manifestantes envolveram-se em confrontos com as forças policiais, que recorreram a gás lacrimogéneo, cavalos e veículos blindados para os dispersar. Ambos os protestos foram iniciados de forma pacífica, mas grupos nacionalistas de extrema-direita optaram por atacar com diversos objetos os polícias que se encontravam nas imediações.
O Presidente sérvio definiu os protestos como "políticos" e destinados a enfraquecer a Sérvia nas suas conversações com o Kosovo, a antiga província do sul que autoproclamou a independência em 2008, não reconhecida por Belgrado.
Hoje, diversos 'media' próximos do Governo acusaram grupos de extrema-direita russos de terem fomentado a violência.
O embaixador da Rússia na Sérvia já desmentiu veementemente as acusações de um envolvimento de Moscovo nos distúrbios.