"A África Subsaariana acolhe mais de 26% dos refugiados do mundo. Os conflitos de longa duração em regiões como o Sahel levaram ao encerramento de instalações de saúde e à fuga de trabalhadores da saúde", lê-se num comunicado da organização.
A título de exemplo, a OMS lembra que, no Burkina Faso, 110 estabelecimentos de saúde foram encerrados devido à insegurança, enquanto os serviços foram prejudicados em outros 186, deixando cerca de 1,5 milhões de pessoas sem cuidados de saúde adequados.
Nas regiões centro e norte do Mali, os serviços de saúde têm sido paralisados por ataques persistentes. Só em 2019, foram relatados 18 ataques a instalações de saúde. Já este ano registou-se um ataque a um centro de saúde.
"A covid-19 exacerbou os desafios humanitários existentes, particularmente no que diz respeito ao acesso aos serviços de saúde em muitos países da região", afirmou a diretora regional da OMS para África, Matshidiso Moeti, durante a conferência de imprensa virtual desta organização com o Fórum Económico Mundial.
Neste encontro participaram igualmente o ministro da Saúde e da População da República Centro-Africana, Pierre Somse, o diretor regional para a África do Comité Internacional da Cruz Vermelha, Patrick Youssef, e Adhieu Achuil Dhieu Kueth, um refugiado do Sul do Sudão do campo de Dadaab, no Quénia.
"Com a pandemia, vimos algumas operações humanitárias atrasadas devido a bloqueios, recolher obrigatório e restrições de circulação, tanto para o pessoal, como para a carga, vital para a resposta à covid-19", disse Matshidiso Moeti.
Em cenários muito populosos, como os campos de refugiados, o risco de transmissão da covid-19 é maior devido ao difícil acesso a água limpa, levando a uma higiene inadequada, é à dificuldade em manter o distanciamento físico.
O sistema das Nações Unidas ativou "clusters" de saúde em oito países onde a situação humanitária requer o apoio da comunidade internacional: Burkina Faso, República Centro Africana, Chade, República Democrática do Congo, Etiópia, Mali, Níger e Sul do Sudão.
Embora a informação sobre a transmissão da covid-19 em espaços humanitários continue limitada, cerca de 1.800 casos da doença foram identificados em deslocados, refugiados, migrantes ou em áreas afetadas por crises humanitárias em sete destes países.
Mas este número deve estar subestimado, uma vez que é limitada a capacidade de deteção e teste nestes cenários.
"A OMS insta a comunidade humanitária e os Estados membros a aumentar o apoio aos milhões de pessoas que necessitam urgentemente de assistência na região. Se não reforçarmos os serviços de saúde, incluindo testes, rastreio, isolamento e cuidados a pessoas que já vivem em cenários precários e campos de deslocados, a covid-19 poderá desencadear uma tragédia indescritível", disse Matshidiso Moeti.
As Nações Unidas estão a implementar o Plano Global de Resposta Humanitária à covid-19 para combater a pandemia em países que enfrentam situações humanitárias.
O plano identifica formas de abordar as necessidades imediatas de saúde e não sanitárias relacionadas com a covid-19 para as populações mais vulneráveis, através da saúde, água, saneamento, higiene, alimentação e agricultura, logística, educação e proteção.
Dos 63 países abrangidos pelo plano, 20 estão em África.
África contabiliza 14.044 vítimas mortais devido à covid-19, em mais de 644 mil casos, segundo os dados mais recentes sobre a pandemia no continente.
De acordo com o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (África CDC), o número de infetados subiu para 644.205, mais 18.503 que na quarta-feira, sendo hoje o número de recuperados de 334.547, mais 17.812.