"A situação em Macau é terrível, porque a voz da sociedade civil foi silenciada", disse à Lusa o ativista da Região Administrativa Especial de Hong Kong, acrescentando que a República Popular da China é hoje um país que se rege pelo princípio "um país, um sistema", ao contrário da política de "um país, dois sistemas" proposta por Deng Xiaoping, em 1984.
Questionado sobre a criação de um espaço dedicado à promoção do patriotismo junto dos jovens de Macau, até ao final do ano, Joshua Wong mostrou-se preocupado.
"Portugal devia fazer valer o tratado firmado com a República Popular da China", disse Joshua Wong, que frisa os receios sobre a "supressão da liberdade de opinião" junto da população de Macau.
A informação sobre a "promoção do patriotismo" foi dada a conhecer, na quarta-feira, durante uma reunião plenária do Conselho da Juventude, na qual se adiantou que o espaço intitulado de "Base da Educação do Amor pela Pátria e por Macau" irá ocupar uma parte do Museu das Ofertas sobre a Transferência de Soberania de Macau.
A construção da 'casa' para promover o patriotismo entre os jovens surge quando o Governo de Macau veio, em mais do que uma ocasião, expressar o seu apoio incondicional à polémica lei da segurança nacional imposta por Pequim à vizinha Hong Kong, revelando que há também espaço para "aperfeiçoar" a legislação sobre esta matéria no antigo território administrado por Portugal.
A defesa da lei da segurança nacional é "uma exigência natural e um dever de todo o povo chinês, incluindo os compatriotas de Hong Kong e Macau", pode ler-se numa mensagem publicada no portal da secretaria para a Segurança de Macau.
"Eu penso que os europeus, sobretudo os britânicos e os portugueses, devem fazer com que Pequim cumpra as respetivas declarações conjuntas, porque os tratados foram quebrados", afirmou criticando a falta de intervenção de organismos internacionais como a ONU sobre a situação em Hong Kong.
"As Nações Unidas não devem ser uma plataforma que serve os interesses de Pequim reconhecendo apenas a importância da China", criticou.
O livro do ativista de 24 anos, "(Da falta de) Liberdade de Expressão", que é lançado hoje, em Portugal, está proibido em Hong Kong.
"Espero que se ouça a voz de Hong Kong, foi por isso que publiquei este livro. Milhares de pessoas foram presas durante os últimos anos e os direitos estão a ser suprimidos. Hong Kong é um estado policial", afirmou.
Joshua Wong foi protagonista do movimento pró-democracia de contestação estudantil na Região Administrativa Especial de Hong Kong ("Umbrella Revolution"), em 2014, foi nomeado para o Prémio Nobel da Paz, em 2017, e esteve preso em 2018, tendo sido mais tarde libertado
Atualmente critica fortemente a lei de segurança nacional imposta à Região Administrativa Especial de Hong Kong.
"Reconheço que esta é a uma situação que nunca imaginamos mas a lei de segurança nacional não impediu que 600 mil pessoas fossem votar aqui em Hong Kong, o que prova que Pequim não consegue silenciar a nossa voz", disse, referindo-se às eleições organizadas pelos movimentos pró-democracia e consideradas ilegais pelo Executivo local.
Mais de meio milhão de pessoas em Hong Kong votou esta semana para a escolha dos candidatos pró-democracia dispostos a concorrer às eleições de setembro no território, apesar da forte presença da polícia.
"Existe brutalidade policial em Hong Kong e a polícia deve ser responsabilizada", sublinhou Joshua Wong, que pretende continuar a "lutar" na região administrativa especial.
"Eu corro riscos e incertezas e o risco de ser preso e de talvez de ser condenado a prisão perpétua, mas vou continuar a lutar", disse à Lusa o líder dos ativistas pró-democracia de Hong Kong.