Desde o início da crise, mais de 36 mil trabalhadores dos media norte-americanos, com efetivos já reduzidos nos últimos anos, foram afetados pela queda das receitas publicitárias, segundo uma análise do New York Times, citada pela agência de notícias France-Presse (AFP).
O grupo norte-americano Condé Nast, editor da Vogue, Wired e New Yorker, anunciou o despedimento de uma centena de trabalhadores de um total de 6.000, enquanto o grupo Vox Media (editor do portal The Verge e New York Magazine) vai despedir 72 assalariados, a maioria em desemprego parcial.
O New York Times despediu 68 empregados do departamento comercial.
Os jornais americanos já tinham despedido metade dos seus funcionários entre 2008 e 2019, de acordo com o Pew Institute.
No Reino Unido, o Guardian anunciou 180 despedimentos, enquanto a revista The Economist deverá suprimir 90 postos de trabalho.
Em França, cerca de 50 redações locais, algumas centenárias, fecharam portas por causa da crise, segundo o Instituto Poynter, citado pela AFP.
O diário regional La Marseillaise foi colocado em liquidação judicial, enquanto o jornal Le Parisien prevê a supressão de 30 postos de trabalho.
Após a liquidação judicial do jornal Paris-Normandie, o novo comprador, o grupo belga Rossel, anunciou igualmente a supressão de um quarto dos seus efetivos.
A informação digital também sofreu reveses com a crise. "A imprensa com fins lucrativos entrou em colapso e os jornais não conseguiram construir uma resposta digital", disse à AFP Penelope Abernathy, antiga vice-presidente do The Wall Street Journal e do New York Times, atualmente professora de economia dos 'media'.
O grupo Vice Media prevê despedir 55 postos de trabalho nos Estados Unidos e uma centena no resto do mundo, segundo um comunicado do grupo, citado pela imprensa local.
Para alguns, a crise é a oportunidade para acelerar a transição para um modelo económico baseado em assinaturas - caso do 'site' de informação económica norte-americano Quartz, que deverá suprimir 40% dos efetivos, sobretudo no departamento comercial.
O audiovisual também foi afetado pela pandemia. No Reino Unido, a BBC anunciou que vai suprimir 520 postos de trabalho, de um total de 6.000.
Nos Estados Unidos, a NBCUniversal reduziu em 20% os salários mais altos, enquanto o gigante ViacomCBS prevê suprimir 10% dos 35.000 postos de trabalho, de acordo com a Bloomberg.
Com a crise sanitária, tornou-se mais difícil levar os jornais aos locais de venda e mais complicado para os clientes obtê-los.
A pandemia "acelerou quase certamente a transição para um futuro 100% digital", aponta-se no relatório de 2020 do Instituto Reuters, citado pela AFP, que indica que a crise está a atingir uma indústria já enfraquecida pela queda das receitas de vendas e da publicidade, as suas principais fontes de rendimento.
No Brasil e no México, alguns dos maiores diários abandonaram temporariamente o papel por publicações totalmente digitais.
Nas Filipinas, 10 dos 70 jornais membros do Instituto de Imprensa (PPI) foram obrigados a fechar por causa da pandemia. "Os tempos são difíceis: não há anunciantes e ninguém nos lê", lamentou o diretor executivo da PPI, Ariel Sebellino, em declarações à AFP.
No Reino Unido, os principais jornais conquistaram mais 6,6 milhões de leitores 'online' no primeiro trimestre, um recorde, de acordo com a associação comercial inglesa.
Apesar disso, a maioria dos jornais não recuperou os números das vendas em papel.
"Esta é a maior ameaça para a indústria noticiosa mundial desde a crise económica de 2008", advertiu a revista inglesa especializada Press Gazette.
O jornal New York Times, nos Estados Unidos, viu as suas receitas em linha excederem as receitas em papel pela primeira vez no segundo trimestre.
Jornais gratuitos como o Metro e o Destak no Brasil, ou o 20 Minutos em França, também suspenderam temporariamente a sua publicação.
Na Alemanha, apesar de o número de leitores de jornais em versão digital ter aumentado, os profissionais não acreditam que o fim do papel esteja para breve.
"Ainda há demasiados leitores que querem ter os seus jornais nas mãos", disse à AFP o presidente da Federação de Jornalistas Alemães, Frank Überall, "e eles são a maioria na Alemanha, especialmente os mais velhos".