Em Londres, os manifestantes, a grande maioria com máscaras e a respeitar o distanciamento social, marcharam pacificamente até aos portões do número 10 de Downing Street, a residência oficial do primeiro-ministro britânico, gritando palavras de ordem como "Boris Johnson ouve-nos a gritar" e "paga-nos devidamente ou vai embora".
A classe médica tem sido considerada quer pelo Governo quer pela população como "heroína" face ao trabalho que desenvolveu no combate à epidemia do novo coronavírus.
No entanto, surgiram acusações de que, após uma década de cortes na despesa pública feitos por Boris Johnson e pelos governos conservadores que o antecederam, o Serviço Nacional de Saúde britânico está a lutar para se manter vivo.
Em Glasgow, na Escócia, um manifestante empunhou um cartaz com a frase "enough empty praise - give us a fair raise" ("chega de elogios ocos - dá-nos um aumento justo"), enquanto outro participante perguntava quem salvou Boris Johnson.
O primeiro-ministro britânico foi um dos milhares de britânicos que contraiu a doença covid-19, tendo passado três noites consecutivas numa unidade de cuidados intensivos num hospital de Londres (Saint Thomas), tendo, assim que abandonou o estabelecimento de saúde, agradecido aos médicos e enfermeiro por lhe terem salvado a vida, entre os quais um enfermeiro português.
Por outro lado, as enfermeiras, assistentes sociais e médicos estagiários manifestaram-se zangados por terem sido deixados de fora dos planos governamentais de aumentos salariais acima da inflação a mais de um milhão de funcionários públicos por terem um contrato diferente que os vincula ao Estado.
Citado pela agência noticiosa Associated Press (AP), Dave Carr, enfermeiro da unidade de cuidados intensivos do St. Thomas Hospital, o mesmo em que Boris Johnson esteve internado, indicou que trabalhar durante a pandemia "foi o mais difícil" da sua vida e sublinhou que todos estão "exaustos".
"Estamos de rastos, totalmente de rastos. E, como cereja no topo do bolo, eles [Governo] dão um aumento aos funcionários públicos -- e não tenho qualquer problema com isso -- mas deixaram-nos à margem. Estou completamente indignado. Cansado e indignado. Já chega", afirmou Dave Carr.
Segundo os dados oficiais divulgados sexta-feira, o Reino Unido é o quarto país do mundo com maior número de casos de contágio de covid-19, tendo contabilizado mais de 309 mil infetados e um total de 46.511 mortes, continuando com níveis altos de infeção e de óbitos diários nas últimas semanas.
Os números divulgados sexta-feira pelo Grupo de Aconselhamento Científico para Emergências do Governo Britânico (SAGE, na sigla em inglês) sugerem que a taxa de transmissão do vírus se está a aproximar de 1% em todas as regiões do país, nível acima do qual o vírus se multiplica na sua expansão.
Os especialistas alertam também que o rácio de contágio pode já estar acima desse limiar em Inglaterra.
"Começamos a ver os primeiros indícios de que esses valores possam estar a aumentar. Este facto ainda não está refletido nessas estimativas, pois os dados que usamos para calcular o rácio e o nível de crescimento refletem a situação de algumas semanas", sublinham os cientistas.
A pandemia de covid-19 já provocou cerca de 722 mil mortos e infetou mais de 19,4 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.