Militares dizem ter capturado o presidente e primeiro-ministro do Mali

O Presidente do Mali, Ibrahim Boubacar Keita, e o seu primeiro-ministro, Boubou Cissé, foram detidos ao final da tarde durante uma revolta por militares, afirmou um dos líderes do motim citado pela agência France-Presse.

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Lusa
18/08/2020 20:26 ‧ 18/08/2020 por Lusa

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"Podemos dizer-vos que o Presidente e o primeiro-ministro estão sob o nosso controlo. Prendemo-los na sua casa [do chefe de Estado, em Bamako, capital]", disse à agência noticiosa um dos líderes do motim, sob anonimato.

Um outro soldado afirmou que os dois líderes estão "num veículo blindado, a caminho de Kati", a cerca de 15 quilómetros da capital e onde teve início o motim.

Os amotinados assumiram o controlo do campo militar e das ruas adjacentes, dirigindo-se então para o centro da capital, segundo um correspondente da AFP.

Em Bamako foram recebidos com aplausos pelos manifestantes que exigem a demissão de Ibrahim Boubacar Keita (IBK).

O presidente da Comissão da União Africana (UA), Moussa Faki Mahamat, criticou a detenção do chefe de Estado e do chefe do Governo, pedindo a sua libertação imediata.

"Condeno veementemente qualquer tentativa de alterações anticonstitucionais e apelo aos amotinados para pararem toda a violência e respeitem as instituições da República", escreveu Faki Mahamat na plataforma Twitter.

O responsável da comissão da UA apelou ainda à Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), Organização das Nações Unidas e "toda a comunidade internacional" para que "conjuguem eficazmente os seus esforços para evitar o uso de força" no Mali.

A CEDEAO, que tem promovido um diálogo entre Governo e manifestantes que exigem a destituição de IBK e Boubou Cissé, mostrou-se preocupada com os acontecimentos de hoje no Mali.

Num comunicado, a comissão da CEDEAO apelou aos militares para que "regressem sem demora" ao seu quartel e pediu a todas as partes que "deem prioridade ao diálogo para resolver a crise política" no Mali.

A CEDEAO afirmou ainda que está disponível, a par da ONU, União Africana, União Europeia (UE) e "todos os parceiros multilaterais e unilaterais do Mali", para continuar a apoiar os intervenientes malianos no sentido de resolver a crise política.

O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, alertou que um golpe de Estado "nunca é a solução" para as divergências num país.

"A União Europeia acompanha de perto o que se passa no Mali. Um golpe de Estado nunca é a solução para uma crise, por mais profunda que seja", escreveu Michel no Twitter.

O alto-representante da UE para a Política Externa, Josep Borrell, considerou que esta "de maneira alguma pode ser a resposta à profunda crise sociopolítica" que tem afetado o Mali, assinalando que a organização europeia tem estabelecido contactos para "compreender melhor a situação".

O Governo francês reagiu e condenou o motim. Numa declaração, o ministro dos Negócios Estrangeiros de França, Jean-Yves Le Drian, indicou que o seu país tinha recebido "com preocupação" a notícia do que parecia ter sido uma tentativa de golpe de Estado.

"A França reafirma firmemente o seu total empenho na soberania e democracia do Mali", vincou Le Drian.

Também o executivo espanhol se mostrou preocupado com a situação no Mali.

Em resposta ao motim, os Estados Unidos da América (EUA), através do seu enviado ao Sahel, Peter Pham, opuseram-se a qualquer mudança no Governo que não cumpra a Constituição maliana.

"Estamos a seguir com preocupação o desenvolvimento da situação no Mali. Os EUA opõem-se a qualquer mudança de Governo extra-constitucional, quer seja pelos que estão nas ruas, quer pelas forças de defesa e segurança", escreveu Pham na plataforma Twitter.

Um dos catalisadores da atual crise política no Mali foi a invalidação, no final de abril, de 30 resultados das eleições legislativas pelo Tribunal Constitucional, incluindo cerca de uma dezena em favor da maioria parlamentar.

A decisão, aliada a fatores como o clima de instabilidade e insegurança sentido nos últimos anos no centro e norte do país, a estagnação económica e a prolongada corrupção, instigaram várias manifestações contra IBK.

Portugal tem desde 01 de julho uma Força Nacional Destacada no Mali, no âmbito da Minusma, que inclui 63 militares da Força Aérea Portuguesa e um avião de transporte C-295.

O objetivo do destacamento português é assegurar missões de transporte de passageiros e carga, transporte tático em pistas não preparadas, evacuações médicas, largada de paraquedistas e vigilância aérea, e garantir a segurança do campo norueguês de Bifrost, em Bamako, onde estão alojados os militares portugueses.

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