"Em resposta ao aumento das infeções por covid-19, as atividades e movimentos são restringidos dentro do campo de Kyangwali", disse o oficial de relações externas do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), Wendy Daphne Kasujja, citado pela agência Efe.
Kyangwali é um dos campos de refugiados mais populosos de África, com mais de 123.000 habitantes da República Democrática do Congo (RDCongo), Sul do Sudão, Ruanda, Burundi, Quénia, Somália e Sudão.
"Estamos preocupados", disse Jonathan Nabasa, um refugiado congolês de 42 anos que vive em Kyangwali, acrescentando: "Por um lado, a doença assusta-nos. Por outro lado, não sabemos como vamos alimentar as nossas famílias a partir de agora".
No entanto, Wendy Daphne Kasujja afirmou que, mesmo durante o confinamento, "as atividades críticas para salvar vidas não irão parar na colónia" e que será prestada assistência às pessoas mais vulneráveis.
Rebeca Noel, 26 anos, uma refugiada congolesa, admitiu que a covid-19 foi uma ameaça distante até os primeiros casos serem detetados pelas autoridades dentro do campo de Kyangwali, no final de julho.
"Conhecíamos a doença através de programas de rádio e redes sociais. Todos falavam sobre o assunto. Mas pensámos que afetaria apenas Kampala [capital do Uganda] e outras grandes cidades", disse à agência Efe.
Esta mãe de dois filhos olha agora para o futuro com preocupação, sabendo que não pode contar apenas com as doações do ACNUR.
"O ACNUR dá-nos 23.000 xelins (5,26 euros) por mês e por pessoa. Isso não é suficiente para comer todos os dias", referiu.
E acrescentou: "Antes do confinamento eu costumava viajar para outras aldeias a vender sapatos ou relógios. Dessa forma, poderia ganhar um pouco mais de dinheiro. Mas agora é impossível. Eu não sei o que vou fazer...".
No entanto, apesar dos progressos da covid-19 e da incerteza causada pelo confinamento, Noel nem sequer equaciona o regresso ao Congo.
"Não esqueci o horror da guerra. Embora eu fosse uma criança quando me refugiei no Uganda com os meus pais, ainda me lembro dos corpos deitados na estrada e do barulho dos tiros. Não posso voltar para lá", frisou.
O Uganda é o quinto maior país de acolhimento de refugiados do mundo, com 1,4 milhões de refugiados dentro das suas fronteiras, principalmente do Sul do Sudão (882.031 refugiados) e da RDCongo (418.258).
A pandemia de covid-19 já provocou pelo menos 863.679 mortos e infetou mais de 26 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.