"Preocupam-me as decisões do Supremo tribunal de justiça, que obstruem a liberdade de seleção dos representantes de sete partidos políticos, e a designação não consensual dos membros do Conselho eleitoral", assinalou Bachelet no seu relatório sobre a Venezuela perante o Conselho de direitos humanos da ONU.
A ex-presidente chilena também referiu ter dúvidas sobre a composição da Assembleia Nacional (parlamento) "sem um processo inclusivo de consulta prévia" e pediu que a Venezuela prossiga os esforços "para alcançar condições que garantem processos eleitorais credíveis, livres e justos".
O relatório, que atualiza o documento apresentado em julho no mesmo Conselho pela Alta comissária, também denuncia o "elevado número de mortes de jovens em bairros pobres em resultado de operações de segurança" e refere-se a mais de 2.000 mortos em 2020, incluindo 711 entre junho e agosto.
As investigações da procuradoria-geral venezuelana "demonstram um padrão similar ao documentado pelo meu gabinete, pelo qual após executarem as vítimas já neutralizadas, as forças de segurança roubam-nas e manipulam as provas para apresentar os factos como um confronto", denunciou Bachelet.
Sobre a incidência da pandemia na Venezuela, Bachelet manifestou preocupação pelo "discurso estigmatizado de algumas autoridades, que responsabilizam pela introdução da Covid-19 as pessoas que regressam ao país de forma irregular".
A Alta comissária evocou ainda as informações que revelam que 33% das mortes por Covid-19 na Venezuela ocorreram entre o pessoal hospitalar "devido sobretudo à falta de dispositivos de biossegurança e de água nos hospitais".
Numa resposta ao relatório, o embaixador venezuelano nas Nações Unidos em Genebra, Jorge Valero, disse lamentar que o documento "careça, uma vez mais, do balanço necessário, apresente evidentes falhas metodológicas e uma informação enviesada que alimenta a campanha mediática contra a Venezuela".
"No entanto, continuamos abertos ao intercâmbio construtivo de informação com a Alta comissária e o seu gabinete", assinalou, após Bachelet também ter reconhecido progressos na cooperação entre o organismo que dirige e as autoridades venezuelanas.
Numa referência aos países latino-americanos do Grupo de Lima, promotores de relatórios periódicos sobre a Venezuela no Conselho de Direitos Humanos, Valero assegurou que "deveriam preocupar-se com as enormes violações de direitos humanos que se cometem diariamente em países da região", citando entre eles o Brasil, Colômbia, Peru, Chile e Paraguai.
A embaixadora peruana, em representação de alguns dos países do Grupo de Lima, interveio para manifestar a preocupação regional pela crise venezuelana e quando o surto da pandemia "agravou o contexto em que são diariamente violados os direitos e liberdades fundamentais".
"As liberdades de imprensa, expressão e manifestação são severamente restringidas", enquanto se perseguem jornalistas, defensores dos direitos humanos e representantes da sociedade civil", referiu a representante do Peru.