A pesquisa nomeada 'Liberdade online - Como meninas e jovens mulheres lidam com o assédio nas redes sociais' realizada pela ONG foi formulada a partir de entrevistas respondidas por 14 mil meninas com idades entre 15 anos a 25 anos, em 22 países, incluindo o Brasil, onde 500 meninas participaram.
A percentagem de vítimas brasileiras assediadas na Internet é muito superior ao da média global, que ficou em 58%.
As brasileiras incluídas no estudo foram entrevistadas em momentos de maior uso da Internet devido às medidas de distanciamento social impostas pela pandemia e responderam perguntas sobre ameaças de violência sexual, assédio sexual, comentários racistas e homofóbicos, perseguição ou linguagem abusiva nas redes sociais.
Das entrevistadas no Brasil, 90% disseram que usam frequentemente as redes sociais e 46% disseram que sofrem mais assédio nas redes sociais do que nas ruas.
De acordo com o estudo, as adolescentes e jovens que usam as redes sociais são expostas diariamente a mensagens explícitas de cerco, fotografias pornográficas e até perseguições.
"Entre as jovens que afirmam ter sofrido assédio, 62% das brasileiras disseram que a situação aconteceu no Facebook (39% no estudo global) e 44% no Instagram (23% no global)", diz um comunicado da ONG sobre a pesquisa.
No Brasil, "os ataques via WhatsApp também são relevantes, com 40%. Por isso, as meninas e jovens mulheres exigem ações urgentes das empresas de 'media' social: 44% dizem que essas companhias precisam fazer mais para protegê-las."
Enquanto no mundo um quinto das adolescentes e jovens que sofreram cerco reduziu o uso das redes sociais, 39% das vítimas brasileiras preferiram ignorar os ataques e continuar usando as plataformas da mesma forma.
Globalmente, o ataque mais comum é o uso de linguagem abusiva e insultos, da qual 59% das entrevistadas reclamaram, seguida de humilhação intencional (41%), mensagens que as fazem sentir vergonha do corpo (39%) e ameaças de violência sexual (39%).
O ataque mais comum relatado pelas brasileiras foi a linguagem abusiva ou insultuosa (58%), mas em seguida aparecem relatos de ataques à aparência para envergonhar o corpo (54%), humilhação intencional (52%), comentários racistas (41%) e comentários homofóbicos (40%).
"Embora esta pesquisa tenha como base as conversas com mais de 14 mil meninas em vários continentes, elas compartilham experiências semelhantes de assédio e discriminação", afirmou Anne-Birgitte Albrectsen, presidente do Conselho de Administração da Plan International.
"Esses ataques podem não ser físicos, mas geralmente são ameaçadores, implacáveis e limitam a liberdade de expressão das meninas. Tirar as meninas dos espaços 'online' é extremamente enfraquecido em um mundo cada vez mais digital e prejudica sua capacidade de serem vistas, ouvidas e se tornarem líderes", complementou.
Mais da metade (54%) das jovens brasileiras que são de uma minoria étnica e sofreram abusos afirmam que são atacadas por causa de sua raça ou etnia.
A pesquisa mostrou que quase metade (44%) das brasileiras que se identificam como LGBTI+ (sigla usada para nomear lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis, transgénero e queer) afirmaram que foram assediadas por causa da sua identidade de género ou orientação sexual.
Para combater o assédio nas redes, a Plan International lançou a campanha #PonteEnMiPerfil na qual, com a colaboração de "influenciadores", pretende que políticos, legisladores, empresas e a sociedade em geral deem visibilidade ao assédio 'online'.