"Depende muito do que queres dizer com remédio, pois essa palavra causa muita confusão", disse o diretor do Instituto Americano de Doenças Contagiosas aos microfones da CBS Radio, que numa fase inicial fazia os briefings da Casa Branca sobre a evolução da pandemia.
O médico explicou que existem "bons tratamentos para pessoas hospitalizadas com doenças severas" e enumerou diferentes fármacos já testados em milhares de pacientes, tais como o antiviral remdesivir e o corticoide dexametasona, que foram prescritos ao presidente norte-americano, mas mostrou reservas em relação a tratamentos com anticorpos sintéticos como o desenvolvido pelo laboratório Regeneron e largamente elogiado por Donald Trump.
"Têm resultados prometedores nos ensaios clínicos, mas a sua eficácia geral e segurança ainda não foram provadas", justificou Anthony Fauci.
O internacionalmente respeitado cientista falou também de uma cerimónia que decorreu na Casa Branca, em 26 de setembro, um evento descrito como "altamente propagador" da doença e suspeito de estar na origem da infeção de vários convidados com covid-19.
"Tivemos um evento altamente propagador na Casa Branca"
Questionado sobre a eficácia das máscaras, depois de vários convidados terem testado positivo para o novo coronavírus, Fauci respondeu que "os dados falam por si".
"Tivemos um evento altamente propagador na Casa Branca, onde as pessoas estavam próximas umas das outras e não usaram máscara", apontou, sem especificar que evento.
Mais de 30 pessoas são suspeitas de terem sido infetadas durante a cerimónia organizada para a nomeação da candidata de Donald Trump para o Supremo Tribunal dos EUA, Amy Coney Barrett.
O presidente norte-americano afirmou esta semana que contrair a covid-19 foi "uma bênção de Deus" e prometeu aprovar "com urgência" e disponibilizar gratuitamente o coquetel experimental de anticorpos sintéticos da Regeneron com que foi tratado e que apelidou de "cura".
A declaração de Trump foi feita um dia depois de a Agência do Medicamento dos Estados Unidos (FDA) estabelecer critérios de aprovação de uma futura vacina contra a covid-19, que tornam improvável a sua autorização antes das eleições presidenciais em 03 de novembro.
Já hoje, um funcionário do governo de Trump, responsável pela resposta à pandemia no país, disse que os EUA podem esperar a distribuição de uma vacina a partir de janeiro de 2021, numa altura em que um coro bipartidário de legisladores, especialistas e funcionários de saúde pública afirmam que o país está mal preparado para o previsível aumento de casos de covid-19 durante o inverno.
Numa mensagem de email, o secretário assistente de preparação e resposta do Departamento de Saúde e Serviços Humanos, Robert Kadlec, afirmou que o governo "está a acelerar a produção de vacinas seguras e eficazes para garantir a entrega a partir de janeiro de 2021".
Os Estados Unidos são o país com mais mortos (212.789) e também com mais casos de infeção confirmados (mais de 7,6 milhões).