A AMIC, uma das mais destacadas organizações guineenses na matéria de proteção de menores, disse não ter um estudo para sustentar a sua tese, mas que indicadores de entrada e saída de meninas no centro de acolhimento em Bissau apontam naquele sentido.
Desde que foi declarado o estado de emergência sanitária no país, em março, até à semana passada, a AMIC já recebeu no seu centro de acolhimento de menores em situação de risco e vulnerabilidade quatro meninas menores de 18 anos.
"Algumas fugiram das suas comunidades ou famílias por tentativa de casamento forçado, outras por maus tratos físicos, outras ainda por tentativa de incesto", declarou Laudolino Medina, secretário executivo da AMIC.
O centro de acolhimento da associação, situado no bairro de Enterramento, subúrbios de Bissau, tem neste momento seis raparigas, depois de nas últimas semanas ter estado "quase a abarrotar de meninas", contou à Lusa Laudolino Medina, numa visita guiada pelas dependências da casa equipada com beliches que se assemelham a camaratas militares.
Cinco das meninas que lá se encontram são de aldeias do sul da Guiné-Bissau, mas uma, a Suzete (nome fictício) veio de uma localidade próxima de Bissau. Suzete chegou ao centro da AMIC na terça-feira.
Ao perceber que uma delegação tinha chegado à casa dos pais, com "muita aguardente" e se pôs em "longas conversações", com os homens, Suzete arrumou poucos pertences e saiu da aldeia, por volta das 04:00 da manhã em direção a Bissau.
Aguardente é um produto que não pode faltar no momento de pedir uma menina em casamento na tradição dos pais da Suzete, contou à Lusa a própria.
Suzete não teve medo de andar no escuro da sua comunidade até Bissau, numa distância de cerca de 25 quilómetros, madrugada dentro, saiu às 04:00 e chegou ao centro de acolhimento da AMIC por volta das 06:00 da manhã.
"Queria só chegar aqui onde, contaram-me, as meninas pedem socorro", disse Suzete a roer as unhas, pensando no futuro que, disse, passa por não aceitar casar antes de terminar os estudos e formar-se numa área que ainda não escolheu.
O secretario executivo da AMIC deixou que a Lusa falasse com a Suzete, mas já não quis indentificar qual das seis meninas que se encontram no centro foi alvo de incesto.
"É um caso complicado e ainda em investigação da nossa parte", explicou Laudolino Medina, mas deu como certeza absoluta um claro aumento daquele fenómeno com o confinamento social devido à covid-19.