"Pensava que Trump falava pelos veteranos. Era como se ele soubesse o que os veteranos queriam", disse à Lusa o ex-militar, de 40 anos, que serviu duas vezes no Afeganistão. "Depois descobri a verdade sobre ele, sobre a corrupção, os laços com a Rússia, um homem de negócios falhado, coisas tão más", afirmou.
"Quando votei no Trump, pensei que era uma pessoa como deve ser. Não era perfeito, ninguém é, mas nunca me apercebi de quão mau ele era", disse Weissman.
O ex-militar - que escreveu aqui um artigo onde explica porque passou de "Trump troll" a apoiantes de Biden - acabou por se afastar da base de apoio do Presidente e passou para o lado oposto, estando agora a fazer campanha por Joe Biden na Florida, onde reside, e que é um dos Estados considerados decisivos na eleição de 3 de novembro.
"Pode-se fazer muito nas redes sociais, mas é preciso sair e fazer campanha nas ruas, ser ativo", afirmou David Weissman, explicando que se inscreveu para ser um 'poll greeter' (alguém que está à porta das mesas de voto a falar com os eleitores) pelos democratas no seu condado de residência, Brevard.
"Vou estar a passar informação aos eleitores sobre os candidatos democratas, não apenas Joe Biden, mas também os outros nas eleições locais na Florida", descreveu.
"Esses lugares são tão importantes quanto a presidência", acrescentou.
A forma pública como a mudança de Weissman decorreu - o ex-militar tem mais de 220 mil seguidores na rede social Twitter e tornou-se membro do comité da Florida para o Project Lincoln, uma organização de republicanos contra Trump - tornou-o num alvo dos apoiantes do presidente.
How it started how its going. pic.twitter.com/WKnD382Gfc
— David Weissman (@davidmweissman) October 11, 2020
"Algumas pessoas conseguem ter um diálogo respeitoso sobre isto, mas a maioria dos fãs de Trump considera-me um traidor", disse.
Weissman endereçou também as críticas que o Presidente alegadamente fez aos soldados que morreram em guerras, classificando-os de "perdedores" e "fracassados", segundo uma reportagem da revista The Atlantic e declarações da jornalista da Fox News Jennifer Griffin, críticas que o Presidente negou ter feito.
"Honestamente, não duvido que ele tenha mesmo dito tudo aquilo sobre os soldados que morreram", afirmou Weissman. "Qualquer crítica que lhe façam ele diz que são notícias falsas. Há uma gravação dele a falar mal dos generais, há um histórico da forma como ele tem desrespeitado os veteranos, soldados como John McCain", disse o norte-americano.
"Servi duas vezes no Afeganistão e perdi soldados na minha primeira missão. É uma desgraça dizer isso", considerou.
Ainda assim, Weissman disse que nenhum dos veteranos que conhece mudou de ideias por causa destas notícias, visto que os que apoiam o Presidente não acreditam e os que são contra Trump já o eram antes.
O ex-militar explicou ainda que quando o então candidato Donald Trump teceu críticas ao veterano de guerra John McCain tal não afetou o seu apoio. "Na altura isso não me preocupou, porque McCain estava a trabalhar com os democratas", disse.
"Na América conservadora não se pode trabalhar com democratas, porque eles são considerados o inimigo e querem tornar a América mais fraca", explicou.
Considerando que as margens entre os candidatos serão "muito apertadas" na Florida, David Weissman disse antecipar que os próximos meses serão "intensos" e "loucos" independentemente de quem for vencedor, dada a polarização do país.
"Se Biden ganhar, a prioridade será pôr esta pandemia sob controlo", vaticinou. "Emitir um mandado nacional para o uso de máscaras e para o distanciamento social, trabalhar para pôr a economia a funcionar outra vez de uma forma segura, não de uma forma irresponsável", defendeu.
No caso de o Presidente ser reeleito, Weissman disse esperar "corrupção sem fim à vista" e a continuação da pandemia de covid-19, "porque ele não leva isto a sério". Todavia, lembrou que se os democratas ganharem controlo sobre o Senado, um segundo mandato de Trump será diferente.
"Uma das coisas boas do nosso governo é que as pessoas não têm poder absoluto. Haverá pesos e contrapesos", disse.
"Espero que os democratas virem o Senado e que Trump seja responsabilizado por muitas das coisas que fez durante os últimos quatro anos", sustentou.
Para as pessoas que estão a olhar para as eleições de fora, o ex-militar frisou que o presidente não é um espelho absoluto do país. "Isso vê-se pelo voto popular. A maioria dos americanos abraça as alianças e os outros países", afirmou.
"Trump não representa toda a América", vincou.