"As linhas dos distritos para dividir as comunidades em diferentes grupos são, na maior parte, definidas pelos legisladores. Isso significa que as pessoas que têm esses cargos têm controlo sobre a composição das comunidades que os elegem", refletiu o advogado e especialista do Centro Brennan para a Justiça, dos EUA, em declarações à agência Lusa.
Chamada de "gerrymandering" nos EUA, a prática de manipular as linhas que separam diferentes distritos provocam, há décadas, impactos como dividir comunidades, retirar poder político das minorias, dar vantagens a um certo partido político e permitir a continuação na liderança de certos indivíduos.
Os dados sobre as populações de cada localidade são retirados dos censos, realizados a cada dez anos. Ou seja, para as eleições deste ano, que se realizam em 03 de novembro, os distritos ficaram, na maior parte, de acordo com dados populacionais de 2010
O censo realizado este ano nos Estados Unidos, e que terminou à meia-noite desta sexta-feira, vai fornecer os dados para a próxima década.
"Os legisladores desenham distritos que os beneficiam" e isto cria situações em que os "políticos se permitem escolher os seus próprios eleitores" e que pode levar a práticas de corrupção ou abuso de poder, declarou Tom Wolf.
O advogado considerou que os políticos que querem tirar vantagens dos mapas de distritos "não têm como objetivo realizar os seus trabalhos em nome do interesse dos eleitores" e estão apenas atraídos por "acumular e manter o poder", o que "põe a democracia a andar para trás".
Recentemente, lamentou, observou-se o "'gerrymandering' partidário extremo", em que o grande objetivo é que "o partido controle as linhas para maximizar o número de distritos que o partido pode ganhar", disse o especialista.
O problema é, não o de uma pessoa se tentar beneficiar a si própria, mas de um partido inteiro encontrar maneiras de ficar no poder durante a década seguinte, explicou Tom Wolf.
Para o especialista, oe eleitores podem "impedir que este problema se repita década após década (...) examinando minuciosamente" os candidatos a cargos políticos, para saber quais são as suas atitudes sobre o desenho de distritos e como exercem o seu poder.
Em segundo lugar, os habitantes devem participar nos processos de reforma que visam tornar o processo de desenho de distritos mais transparente e aumentar a recolha de opiniões e 'feedback' dos habitantes, acrescentou Tom Wolf.
Assim pode-se, na visão do especialista, "aproveitar oportunidades" para garantir que "os legisladores entendam que estão a ser avaliados".
E o terceiro conselho que o advogado dá é de apoiar a "dinâmica geral" das reformas, através de comissões independentes de redesenho dos distritos.
"As comissões tiram os mapas das mãos dos políticos que têm praticado abusos e põem na mão de grupos de pessoas imparciais e independentes, criados de forma a evitar conflitos de interesse e para seguir métodos mais transparentes" no desenho dos distritos, disse o especialista.
Tom Wolf considerou que o "gerrymandering" é "um problema que passa despercebido" e que, por vezes, só se percebe depois das eleições que os distritos podem não ter sido divididos de forma justa e não refletem a vontade da maioria dos eleitores naqueles locais.
O especialista do Centro Brennan assegurou que tem havido muitos progressos na última década, com "passos lentos" e que "a próxima década vai trazer novas oportunidades e novos objetivos para reformas".