Situação na Guiné-Conacri mete África Ocidental numa grande instabilidade

O analista político guineense Rui Landim disse hoje à agência Lusa que a situação na Guiné-Conacri mete a África Ocidental numa "grande instabilidade com consequências imprevisíveis".

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Lusa
24/10/2020 13:13 ‧ 24/10/2020 por Lusa

Mundo

Guiné-Conacri

 

"Temos de lamentar aquela situação, que é uma situação que mete a zona da África Ocidental numa grande instabilidade com consequências imprevisíveis, mas era uma situação já esperada, era previsível", afirmou o analista à Lusa.

Segundo Rui Landim, a situação já era esperada se se tiver em conta tudo o que se passou nas eleições na Gâmbia, em 2016, com a interferência direta do Senegal e que culminou com a entrada de forças da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), a Ecomig.

"Começou com essa situação e isso agravou-se com a situação na Guiné-Bissau, onde se vê que dois países apareceram de forma ativa a impor uma situação escandalosa com um recurso de contencioso eleitoral. A CEDEAO reconhece um candidato, quando não é o seu papel", salientou Rui Landim, referindo-se ao Senegal e à Nigéria.

O Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, tomou posse como chefe de Estado enquanto decorria um recurso de contencioso eleitoral e foi reconhecido pela CEDEAO, que não esperou pela decisão do Supremo Tribunal de Justiça do país.

O analista guineense considerou que a geopolítica na região é a de uma hegemonia étnica, que se pode chamar a hegemonia do fula.

"Há muitos observadores que acusam o Macky Sall [Presidente do Senegal] de ter deixado escapar a muitos círculos estreitos de que tinha como missão, a seguir ao Senegal, todos os países desta zona terem um Presidente fula", disse.

Atualmente, o Senegal, a Gâmbia e a Guiné-Bissau têm chefes de Estado fulas. O Presidente da Nigéria também é fula.

Na Guiné-Conacri, continuou Rui Landim, a campanha eleitoral foi de "grande clivagem", de "oposição étnica".

"A campanha decorreu como todos vimos numa situação de tensão e de escalada de violência que levou a que candidatos fossem interditos de ir para regiões de onde não eram originários", disse.

Segundo o analista, isso levou a que Alpha Condé, apesar de estar a candidatar-se a um polémico terceiro mandato, recolhesse grande solidariedade e apoio de outras etnias não fulas.

"É preciso ver que na Guiné-Conacri os mandingas [o Presidente Alpha Condé é mandinga] e os fulas constituem metade da população. E quando houve esta situação muitos grupos étnicos aliaram-se aos mandingas, porque lançou-se o espetro do fantasma do domínio fula", salientou.

Depois aparece a "situação deplorável", acrescentou, do candidato Celo Dalein Diallo, de etnia fula, a anunciar a vitória e a sua autoproclamação.

"Num desprezo de tudo, quando há necessidade de se manter serenidade, calma e tranquilidade", afirmou Rui Landim, lembrando que o dia das eleições decorreu com toda a normalidade segundo os observadores internacionais.

Desde segunda-feira que decorrem protestos na capital da Guiné-Conacri, Conacri, e outras cidades, de apoiantes de Cellou Dalein Diallo, que diz estar retido em casa pela polícia, que têm sido reprimidos pelas forças de segurança e que já provocaram cerca de uma dezena de vítimas mortais, segundo organizações internacionais.

Os manifestantes protestam contra a possibilidade de Alpha Condé fazer um terceiro mandato e denunciam fraude eleitoral.

O Governo garantiu que o processo eleitoral foi regular e acusam Cellou Dalein Diallo de ter provocado os distúrbios ao proclamar-se vencedor unilateralmente.

Mas, salientou Rui Landim, na campanha eleitoral Alpha Condé já tinha "denunciado que estes planos estavam montados".

"O plano de se autoproclamar, criar distúrbios e depois se ir meter numa embaixada para fazer o que se passou na Gâmbia para obrigar a CEDEAO a intervir militarmente", disse.

Para Rui Landim, o plano saiu furado, porque Cellou Dalein Diallo caiu no "descrédito completo e ficou isolado" e "nenhum dos outros candidatos o seguiu".

Por outro lado, a Nigéria, "um suposto apoiante", entra "numa situação em que há distúrbios generalizados ao nível de todo o país" e "fica neutralizada", com ameaças ao poder do Presidente Muhammad Buhari.

Os resultados provisórios das eleições da Guiné-Conacri dão vantagem ao atual Presidente do país.

 

MSE // VM

Lusa/Fim

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