"Receberemos vacinas esta semana. Vamos receber já uma primeira partida de vacinas prontas da China. Também receberemos ainda neste mês uma quantidade inicial de 600 litros de matéria-prima para iniciar a produção aqui no Butantan. Tudo caminha para que rapidamente tenhamos 46 milhões de doses de vacinas prontas para uso, já em janeiro", afirmou o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, citado pela imprensa local.
Já o governador de São Paulo, João Doria, identificou a próxima quinta-feira como o dia em que a vacina chegará ao país.
"A vacina do Butantan, a Coronavac, ela chega agora, nesta quinta-feira. Chega já o primeiro lote das vacinas. Ela virá em lotes, pronta do laboratório Sinovac, e depois nós produziremos aqui, no próprio Butantan, para os brasileiros de São Paulo e brasileiros de todo o país, isto se o Ministério da Saúde entender, como deveria, que a vacina é para todos. Aliás, essa é a nossa defesa", disse Doria, em entrevista à Rádio Jornal de Pernambuco.
A vacina precisa ainda de ser registada na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa, órgão regulador) antes de ser distribuída e aplicada à população.
A Coronavac encontra-se na terceira fase de testes no país sul-americano, através de uma parceria entre a farmacêutica chinesa Sinovac e as autoridades do estado de São Paulo, cujo governador, João Doria, se tornou um dos adversários mais ferrenhos do Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, o que levou a uma forte disputa política em torno do imunizante.
Em 20 de outubro, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, anunciou a intenção do Governo central de comprar 46 milhões de doses da fórmula chinesa. Porém, algumas horas após o anúncio, Bolsonaro desautorizou o seu ministro, através das redes sociais, e vetou a compra da Coronavac, argumentando que o imunizante ainda nem sequer havia superado a fase de testes clínicos.
A recusa do chefe de Estado brasileiro contrasta com um outro acordo - firmado pelo seu Governo com a Universidade de Oxford e com o laboratório AstraZeneca - para a compra de 100 milhões de doses da vacina, que ambas as instituições desenvolvem e que se encontra na mesma fase de estudos que o imunizante da Sinovac.
Na semana passada, Bolsonaro adensou ainda mais a polémica em torno da vacina, ao declarar "vitória" após a suspensão dos testes da Coronavac, depois da morte de um voluntário.
"Mais uma vitória de Jair Bolsonaro. (...) Morte, invalidez, anomalia. Essa é a vacina que [João] Doria (governador de São Paulo) queria obrigar o povo paulista a tomar", escreveu Bolsonaro nas redes sociais, após o anúncio da suspensão dos testes da vacina chinesa no Brasil.
A posição do Presidente gerou várias críticas, quer por parte de políticos, quer de profissionais de saúde, que o acusaram de politizar o imunizante e de "comemorar" o óbito de um brasileiro.
Contudo, a Avisa autorizou a retoma dos testes no Brasil, após as autoridades terem concluído que o óbito não estava relacionado com a vacina.
Depois de várias críticas, Bolsonaro recuou e admitiu na última quinta-feira a possibilidade de adquirir a Coronavac, caso seja aprovada pela Anvisa e pelo Ministério da Saúde, e vendida a um preço que considere adequado.
O Brasil é o país lusófono mais afetado pela pandemia e um dos mais atingidos no mundo, ao contabilizar o segundo número de mortos (mais de 5,8 milhões de casos e 166.014 óbitos), depois dos Estados Unidos.
A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 1.328.048 mortos resultantes de mais de 55 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.