Numa conferência de imprensa no Cairo, Egito, Ahmed al-Mandhari, diretor regional da Organização Mundial da Saúde para o Mediterrâneo Oriental, que inclui a maior parte do Médio Oriente, expressou preocupação com o facto de os países da região estarem a baixar a guarda depois de duros confinamentos impostos no início do ano.
As medidas essenciais para a resposta à pandemia, desde o distanciamento social ao uso da máscara, "ainda não estão a ser totalmente praticadas na região", apontou, acrescentando que o resultado é visível nos hospitais lotados.
No Médio Oriente, o vírus já infetou mais de 3,6 milhões de pessoas e matou mais de 76.000 nos últimos nove meses, o que levou al-Mandhari a alertar que "as vidas desse mesmo número de pessoas -- se não mais -- estão em risco", apelando à ação para "prevenir que esta trágica premonição se torne realidade".
Mais de 60% de todas as novas infeções na semana passada foram contabilizadas no Irão, Jordânia e Marrocos, vincou al-Mandhari.
Além disso, os casos têm aumentado no Paquistão e Líbano, que entraram em confinamento no início desta semana, enquanto a Jordânia, Tunísia e Líbano registaram os maiores picos de mortes diários na região.
A pior situação na região foi no Irão, onde as infeções dispararam nos últimos meses, enchendo hospitais e aumentando o número de mortes.
O país bateu o recorde de óbitos diários seis vezes nas últimas duas semanas, elevando a contagem total para mais de 43.400, a maior do Médio Oriente.
O aumento do número de mortes forçou o Governo iraniano, há muito relutante em impor o confinamento por receio de deteriorar uma economia já fragilizada por sanções, a apertar as restrições na capital, Teerão, e noutras grandes cidades. Porém, com pouca fiscalização, o surto não mostra sinais de diminuir.
No Paquistão, o assistente especial do primeiro-ministro para os serviços nacionais de saúde, Faisal Sultan, disse aos jornalistas que a vaga de inverno tinha chegado.
Apesar de o país ter conseguido controlar o surto com restrições específicas no início deste ano, a previsão tornou-se mais alarmante à medida que o país começou a reabrir, apontou o especialista.
"A segunda vaga é tão arriscada, se não mais, do que a primeira. Há uma sensação de complacência e fadiga em conformidade", declarou Sultan, acrescentando que o inverno no Paquistão traz um aumento na interação social, com escolas, eventos e festas de casamento em alta.
A Tunísia é outro país que acreditava que os piores dias do novo coronavírus estavam para trás, apenas para ver os casos dispararem nas últimas semanas.
O país flexibilizou restrições numa tentativa de "coexistir com cautela" com a doença, segundo Faycal Ben Salah, diretor-geral de saúde, depois de as autoridades decidirem que o confinamento estava a matar a economia e a criar "consequências sociais catastróficas".
Embora al-Mandhari tenha recebido com cautela as notícias de candidatas a vacinas viáveis, afirmou que a pandemia está longe de acabar.
"Não podemos - e não devemos - esperar até que uma vacina segura e eficaz esteja prontamente disponível para todos. Simplesmente não sabemos quando isso vai acontecer", sublinhou.
A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 1.350.275 mortos resultantes de mais de 56,2 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.