Em conferência de imprensa realizada no Palácio Nacional, o Presidente mexicano adiantou ter enviado uma carta ao democrata como "Presidente eleito dos Estados Unidos da América" na segunda-feira à noite, "assim que terminou a sessão do colégio eleitoral dos Estados Unidos" que ratificou a vitória de Joe Biden.
López Obrador, que manteve um bom relacionamento com Donald Trump, era, até agora, um dos poucos líderes que ainda não tinha reconhecido Joe Biden e que admitia a possibilidade de ter havido fraude eleitoral, como acusa o Presidente cessante.
O Presidente mexicano leu, na conferência de imprensa, a carta enviada a Biden na noite de segunda-feira após este ter obtido mais do que os 270 votos do Colégio Eleitoral necessários para o ratificar como próximo Presidente dos Estados Unidos.
Na carta, Obrador elogia a posição de Biden sobre questões de imigração e sublinha desejar poder falar "em breve" com o novo Presidente dos EUA sobre esse e outros assuntos.
"Prezado senhor Biden, escrevo este texto para felicitá-lo pelo triunfo que o povo lhe concedeu e que as autoridades eleitorais dos Estados Unidos da América endossaram", escreveu López Obrador.
O mexicano lembrou a Biden que se conheceram há nove anos, quando o democrata era vice-Presidente dos Estados Unidos, e falaram, na altura, "do objetivo de banir a corrupção política, principal causa da dolorosa desigualdade e violência" que, disse López Obrador, sofre o México.
"Os nossos países estão ligados pela vizinhança e os nossos povos estão ligados pela história, pela economia e pela cultura. Por isso, os governantes devem esforçar-se para manter boas relações bilaterais, baseadas na colaboração, amizade e respeito pela soberania", acrescentou.
Na mesma carta, o Presidente mexicano disse ainda ter "a certeza" de que com a administração Biden, o México "poderá continuar a aplicar os princípios" de não intervenção e autodeterminação dos povos, consagrados na Constituição mexicana.
"Expresso também o meu apreço pela sua postura em relação aos migrantes do México e do mundo, o que permitirá manter o plano de promoção do desenvolvimento e do bem-estar das comunidades do sudeste mexicano e dos países da América Central", sublinhou.
O não reconhecimento de Joe Biden como próximo Presidente dos Estados Unidos foi, até agora, justificado por López Obrador com a doutrina Estrada, uma política externa histórica, consagrada na Constituição mexicana, que se baseia na não intervenção nas políticas internas de outros países.
Além disso, lembrou várias vezes o seu desconforto em 2006, quando vários países ignoraram a sua denúncia de fraude eleitoral nas eleições que perdeu para Felipe Calderón.
A embaixadora mexicana em Washington, Martha Bárcena, anunciou na segunda-feira a sua retirada antecipada, após revelar que tinha recomendado ao Presidente mexicano que felicitasse Biden.
Tal como López Obrador, o Presidente russo, Vladimir Putin, também só reconheceu a vitória de Biden hoje, felicitando-o e demonstrando vontade de colaborar com o futuro chefe de Estado.
"Pela minha parte estou disposto a uma colaboração e a contactos consigo", escreveu Putin num telegrama enviado a Joe Biden, de acordo com um comunicado do Kremlin.