Segundo o coordenador da 'taskforce' para a vacinação em Portugal, Francisco Ramos, o país poderá ter direito a cerca de seis milhões de doses de vacinas neste "pacote" adicional assegurado por Bruxelas, um número que corresponde à proporção da população portuguesa a nível europeu, traduzida em 2% deste universo.
"Isto tem de ser confirmado país a país; o facto de a Comissão Europeia ter reservado 300 milhões de doses não obriga a que todos os países comprem a sua parte das vacinas", disse, complementando o raciocínio: "Se tivermos mais vacinas no segundo trimestre, provavelmente, em vez de demorarmos três meses a vacinar as pessoas com mais de 65 anos, poderemos demorar só dois meses. O plano mantém-se, mas faz-se mais depressa".
Contudo, o responsável pela estratégia de vacinação contra a covid-19 rejeitou dar esse cenário de reforço de capacidade como um dado já adquirido, ao lembrar que "a decisão final será do Governo", sendo que o país já contratualizou nos últimos meses de 2020 a aquisição de 22 milhões de doses de vacinas.
"Podemos ter seis milhões de doses, se vamos comprar ainda não consigo dizer. Isso tem de ser visto e analisado num momento posterior, mas aquilo que já podemos dizer é que, se entendermos necessário, teremos à nossa disposição seis milhões de vacinas adicionais, além de todas aquelas que já tínhamos", explicou, além de salientar que esse cenário "não vai alterar nem os critérios [de vacinação], nem os planos".
Paralelamente, Francisco Ramos assinalou que o ritmo de inoculação da vacina na população -- na qual já foram administradas 70 mil doses - vai aumentar no imediato com a administração de uma sexta dose por frasco, numa alteração que foi hoje consumada pela Agência Europeia do Medicamento, face à indicação inicial de apenas cinco doses possíveis por frasco.
"Com o ritmo atual de entrega semanal das vacinas pela Pfizer em Portugal, temos vindo a planear a vacinação de 40 mil pessoas. Na próxima semana, com a mesma quantidade, estamos a programar o início da vacinação de 48 mil pessoas", indicou.
Ao horizonte mais positivo na capacidade de vacinação, o coordenador da 'taskforce' contrapôs com novo aviso aos portugueses para não aligeirarem o cumprimento das medidas de prevenção de contágio com o novo coronavírus e vincou que "ainda vai passar algum tempo" até que a campanha de vacinação resulte na proteção da população.
"Em Portugal não há ninguém vacinado, há 70 mil pessoas que iniciaram a vacinação. Falta ainda a segunda dose a todas essas pessoas. Aquilo que sabemos é que é esperado que a imunidade ocorra uma semana após a segunda dose", alertou, sentenciando: "O facto de estarmos na fase inicial de vacinação não se traduzirá, certamente, nas próximas semanas em qualquer influência no evoluir da curva pandémica. Provavelmente daqui a alguns meses sim, mas, por enquanto, ainda é prematuro e não é expectável que isso aconteça".
O plano de vacinação contra a covid-19 em Portugal começou em 27 de dezembro nos hospitais, abrangendo os profissionais de saúde, e já se estendeu aos lares de idosos.
A primeira fase do plano, até final de março, abrange também profissionais das forças armadas, forças de segurança e serviços críticos. Nesta fase, serão igualmente vacinadas, a partir de fevereiro, pessoas de idade igual ou superior a 50 anos com pelo menos uma das seguintes patologias: insuficiência cardíaca, doença coronária, insuficiência renal ou doença respiratória crónica sob suporte ventilatório e/ou oxigenoterapia de longa duração.
A segunda fase arranca a partir de abril e inclui pessoas de idade igual ou superior a 65 anos e pessoas entre os 50 e os 64 anos, inclusive, com pelo menos uma das seguintes patologias: diabetes, neoplasia maligna ativa, doença renal crónica, insuficiência hepática, hipertensão arterial, obesidade e outras doenças com menor prevalência que poderão ser definidas posteriormente, em função do conhecimento científico.
Na terceira fase, será vacinada a restante população, em data a determinar. As pessoas a vacinar ao longo do ano serão contactadas pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Em Portugal, morreram 7.590 pessoas dos 466.709 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
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