"Espero que a presidência portuguesa seja a presidência para África", afirma Josep Borrell numa entrevista à Lusa, na sexta-feira, à margem da visita do colégio de comissários a Lisboa, no âmbito da presidência rotativa do Conselho da União Europeia (UE).
"Vamos, nestes seis meses, começar por uma conferência ministerial no Ruanda, em março, e, espero, uma cimeira antes de acabar a presidência portuguesa", precisa, acrescentando que o seu "amigo Augusto" Santos Silva, o ministro dos Negócios Estrangeiros, lhe tem assegurado que "a presidência de Portugal é uma presidência virada para África".
Josep Borrell lamenta que a pandemia de covid-19 tenha feito a UE "perder este ano muito tempo na relação com África", período em que estava previsto "um programa de trabalho muito intenso, com encontros a todos os níveis políticos, que não puderam realizar-se".
"Temos uma parceria, as bases de uma parceria, mas temos que a desenvolver", afirma, frisando que a UE "não quer apenas continuar com a ajuda a África", mas "avançar juntos": "O futuro da Europa é com África".
Questionado sobre se há condições para uma Cimeira entre a União Europeia e a União Africana durante os seis meses da presidência portuguesa, Josep Borrell não hesita em dizer que "a Europa deveria fazer uma Cimeira com África antes de a China o fazer", o que está previsto, precisamente, para este semestre.
"Não é uma questão de quem corre mais ou um problema de quem a faz uma semana antes. As cimeiras, só por si, não resolvem tudo. [...] O trabalho tem que ser feito antes e as cimeiras mobilizam energias políticas que são muito importantes porque dão o impulso", afirma.
Para Josep Borrell, a questão central é mobilizar recursos, "canalizando investimentos privados", mas, para isso, é preciso que África "tenha uma boa governação, estabilidade política e paz".
"Não haverá investimentos se não houver estabilidade, não se ganham as guerras hoje em dia se não se ganha a paz".
O Alto Representante da UE para a Política Externa sublinha ainda que a população de África vai ser "dez vezes" maior que a da Europa e que, se não houver um salto no desenvolvimento dos países africanos, "as pressões migratórias serão insustentáveis".
"E, infelizmente, até agora, entre os dois lados do Mediterrâneo, a diferença de riqueza não diminui, aumenta. Se a demografia está desequilibrada e a repartição da riqueza também, não podemos esperar outra coisa mais que termos uma pressão migratória muito grande", frisa.