É a primeira vez que Jair Bolsonaro envia um representante à Argentina, desde a posse do chefe de Estado argentino, Alberto Fernández, há 13 meses.
Esta visita é vista como um passo para os dois presidentes, inimigos ideológicos, para recompor a aliança bilateral, a mais estratégica para os dois países e eixo da integração regional.
A agenda do enviado de Bolsonaro começa hoje às 15:00 locais (18:00 em Lisboa) e prolonga-se por sexta-feira.
O principal conselheiro de Bolsonaro poderá ser recebido pelo Presidente Alberto Fernández num sinal de valorização e de trégua nas trocas de farpas e ironias.
O braço-direito de Bolsonaro terá reuniões com os principais ministros do Governo argentino: o secretário de Assuntos Estratégicos, Gustavo Béliz, o ministro da Economia, Martín Guzmán, o ministro da Defesa, Agustín Rossi, e o chefe da diplomacia, Felipe Solá.
O dia termina na residência particular do embaixador argentino em Brasília, Daniel Scioli, que também se desloca a Buenos Aires para acompanhar o enviado de Bolsonaro nas suas reuniões. Scioli encontrou em Flávio Rocha o canal direto para chegar a Bolsonaro e tentar reconstruir a relação.
Embora a visita de dois dias à Argentina seja exploratória de projetos em conjunto que serviriam de base para relançar a relação a partir do pragmatismo, algumas propostas já estão sobre a mesa.
Em matéria de Defesa, a cooperação na indústria naval, a compra argentina de carros de combate e a rede de tecnologia 5G. Em matéria de Energia, a possibilidade de um gasoduto que conecte o mega poço de Vaca Muerta na Patagónia com o Sul do Brasil.
O conselheiro de Bolsonaro tem contacto diário com o Presidente Bolsonaro, que o designou na função como um assessor de máxima confiança, e desta deslocação poderá sair a confirmação de uma reunião presencial entre os dois chefes de Estado.
O horizonte para esse encontro presencial poderia ser no dia 26 de março, quando o Mercosul, bloco comercial formado pelos dois países, além de Paraguai e Uruguai, completa 30 anos.
O secretário de Assuntos Estratégicos foi o principal responsável pela deposição de armas entre Jair Bolsonaro e Alberto Fernández que derivou na videoconferência do dia 30 de novembro, quando os dois Presidentes mantiveram pela primeira vez um diálogo, mesmo que virtual.
Antes da visita de Flávio Rocha, o anterior enviado do Governo brasileiro tinha sido o vice-presidente, Hamilton Mourão, para a posse de Alberto Fernández em 10 de dezembro de 2019. Bolsonaro recusou-se a participar da cerimónia de posse do argentino, depois de declarar a sua inimizade política com Fernández mesmo quando, estrategicamente, um país seja o mais importante para o outro nas relações internacionais.
Bolsonaro nunca cumprimentou Fernández pela vitória nas urnas em 27 de outubro de 2019.
Os ataques entre Jair Bolsonaro e Alberto Fernández começaram em junho de 2019, quando Bolsonaro começou a fazer campanha a favor da reeleição do ex-presidente Mauricio Macri e alertou para o risco de Fernández transformar a Argentina numa nova Venezuela.
No mês seguinte, Alberto Fernández visitou o ex-presidente Lula da Silva na prisão e depois, em outubro, durante o seu discurso de vitória, pediu a liberdade de Lula, maior inimigo político de Bolsonaro.