"Os desafios relacionados com o financiamento externo e os elevados níveis de dívida colocam um enorme risco" às economias africanas, lê-se no relatório divulgado hoje pelas Nações Unidas em Nova Iorque, no qual se alerta que "a elevada dívida pública está a limitar a capacidade de aumentar a despesa nesta encruzilhada crítica".
Os peritos da ONU escrevem que o nível médio de dívida pública face ao PIB em África subiu oito pontos percentuais, em média, no ano passado, e deverá continuar a crescer este ano, com consequências graves para as economias mais endividadas.
"Os países africanos precisam de mais apoio da comunidade internacional para evitar uma crise da dívida, crescimento baixo prolongado e a armadilha da dívida elevada", escrevem, explicando que "uma crise da dívida não causaria apenas uma brutal deterioração nas condições atuais, implicando um futuro difícil, mas também obrigaria a ajustamentos orçamentais dolorosos, piorando assim as perspetivas de evolução do desenvolvimento".
Sem assistência internacional, acrescentam, "alguns países podem enfrentar extremas dificuldades nas suas tentativas de reavivar a atividade económica, o que tornaria o pagamento da dívida mais árduo".
Além disso, avisam, "perante este contexto, a agitação social e as tensões políticas podem escalar facilmente, o que pode, por sua vez, aumentar a insegurança, a violência, as deslocações internas, as migrações e a insegurança alimentar".
Além do problema da dívida, que tem vindo a ser apontado pelos analistas como umas das mais nefastas consequências da pandemia, já que limita o desenvolvimento e o crescimento da economia nestes países em dificuldade, a ONU avisa também que a crise prejudicou muito o mercado laboral africano.
"Em 2020, as taxas de desemprego subiram em todo o continente, especialmente nas áreas urbanas; a pandemia de covid-19 desencorajou muitas pessoas de procurarem emprego, o que fez com que a força de trabalho tenha regredido nas maiores economias", como a Nigéria e a África do Sul, onde a taxa de desemprego subiu para valores a rondar os 30%.
Para evitar a instabilidade social e combater o impacto da crise, os governos africanos embarcaram numa política expansionista, mas devido às dificuldades orçamentais da região, a resposta foi menor do que no resto do mundo.
"A resposta orçamental na África subsaariana representou apenas 3% do PIB até agora, o que compara com os cerca de 7% registados no resto do mundo", dizem os peritos, lamentando que "apesar de os governos terem implementado um amplo leque de medidas, a assistência tem sido prejudicada por uma crónica falta de redes de segurança que permitiriam uma alocação mais rápida dos recursos aos mais necessitados".
O défice orçamental médio na região, por isso, mais do que duplicou no ano passado, crescendo de 4,9% em 2019 para mais de 10,7% no ano passado.
"A médio prazo, muitos países vão precisar de implementar reformas para criarem espaço orçamental e garantir a sua sustentabilidade, através de melhoramentos na gestão e transparência da dívida, promoção de eficiência na despesa pública e expansão da base tributária", recomenda a ONU.
Leia Também: Cabo Verde pede apoio de Portugal sobre derrogação para exportar