"Os criminosos que incendiaram a sede do governo de Tripoli e que provocaram estrados na cidade e nas suas instituições oficiais [...] expressaram um profundo ódio contra a própria Tripoli", disse Hassan Diab num comunicado
Para o primeiro-ministro libanês em funções, esses "criminosos" devem ser detidos e remetidos ao poder judicial para que prestem contas pelos atos cometidos "contra Tripoli e contra o povo da cidade".
Por seu lado, e na rede social Twitter, Michel Aoun defendeu que se deve "punir" quem provocou os distúrbios em Tripoli e adiantou que as forças policiais receberam ordens para manter a segurança e para prevenirem ataques na cidade, onde os protestos contra o confinamento total começaram na passada segunda-feira.
Hoje, e pela quarta noite consecutiva, Tripoli foi palco de violentos confrontos entre manifestantes e as forças de segurança, em protestos contra a imposição do confinamento total no país, em vigor deste 14 deste mês, e contra a crise económica e social no Líbano.
Segundo a Cruz Vermelha libanesa, mais de 100 manifestantes ficaram feridos durante os confrontos, elevando o total para mais de 400 desde que começaram as ações de protesto, que também provocaram, até agora, uma vítima mortal.
Por seu lado, o Exército libanês, num comunicado, indicou que, nos protestos, três militares ficaram feridos por terem sido atingidos com "pedras, explosivos e coquetéis 'molotov' [engenhos explosivos de fabrico artesanal]" lançados pelos manifestantes em Tripoli, adiantando também que está a investigar os incidentes, nomeadamente junto dos detidos, cujo número não foi precisado.
Organizações internacionais, como a Amnistia Internacional (AI), têm denunciado o uso de força excessiva das forças de segurança libanesas para reprimir os manifestantes, contra quem têm utilizado gás lacrimogéneo e canhões de água.
O Governo libanês impôs há duas semanas as medidas mais restritivas decretadas no país mediterrânico até ao momento para evitar a propagação da covid-19, ao decidir por um confinamento total em todo o país, recolher obrigatório e ainda o encerramento de supermercados, que apenas podem enviar os produtos ao domicílio.
No final da semana passada, as autoridades libanesas anunciaram a extensão das restrições até 08 de fevereiro, o que é visto por muitos como um novo golpe na situação de grave crise económica que o país vive desde 2019 e um flagelo para milhares de famílias que dependem do rendimento diário para sobreviver.
O Líbano está mergulhado na sua pior crise económica em décadas, com uma depreciação inédita da moeda (a libra libanesa perdeu mais de 80% do seu valor facial face ao dólar), hiperinflação, despedimentos maciços e restrições bancárias drásticas.
Segundo a ONU, mais de metade da população vive abaixo do limiar da pobreza, aumentando de 8% para 23% os que atingiram a extrema pobreza.
Em 2020, o Produto Interno Bruto (PIB) caiu 25% e os preços aumentaram 144%, indicam dados do Fundo Monetário internacional (FMI).
Além disso, as restrições sem precedentes a levantamentos e transferências bancárias, em vigor desde o outono de 2019, impedem o acesso livre aos depósitos em moeda estrangeira.
O plano de relançamento económico, anunciado em abril de 2020, que inclui a reestruturação da dívida, entre as mais elevadas do mundo em relação ao PIB, e do setor bancário, continua "letra morta".As negociações com o FMI, para uma ajuda financeira, rapidamente descarrilaram.
A 04 de agosto de 2020, a explosão no porto de Beirute -- imputada à negligência das autoridades e que provocou mais de 200 mortes -, constituiu mais uma tragédia para os libaneses que já estão exaustos, mas que continuam a denunciar a inércia, a corrupção e a incompetência do poder diante de uma avalanche de crises.
Mais a mais, o Líbano está sem governo desde agosto, devido àfalta de entendimento entre os principais partidos políticos, apesar das pressões locais e internacionais.
Por fim, desde finais de dezembro que o Líbano está confrontado com uma propagação exponencial de novos contágios com o novo coronavírus.
O país, com cerca de sete milhões de habitantes, acumulou até hoje quase 300.000 casos de covid-19 e 2.612 mortes a ela associadas, segundo os dados mais recentes da Organização Mundial de Saúde (OMS).
A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.191.865 mortos resultantes de mais de 101 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
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