"Paris, tendo mais meios e capacidade de negociação, mais facilmente fala alto. Não é só Paris que tem dificuldades com o Governo, há outras cidades. Nós também temos dificuldades com a região", afirmou em entrevista à agência Lusa Hermano Sanches Ruivo, vereador da Câmara Municipal de Paris.
O tom das discussões entre a autarquia de Paris, liderada pela autarca socialista Anne Hidalgo, e o Governo, afiliado ao partido do Presidente da República, Emmanuel Macron, tem subido nos últimos meses com algumas discordâncias em relação à gestão da crise e à compensação dos danos que esta causou na capital.
"Temos dois adversários. Um Estado com uma visão limitada e uma região que faz um trabalho feio que é de limitar os projetos que aceita financiar em Paris", declarou.
A região de Île-de-France, onde se encontra Paris, é liderada por Valérie Pécresse, figura da direita francesa. Tanto Hidalgo e Pécresse são possíveis candidatas ao Eliseu já em 2022, mas independentemente de ambições políticas, Sanches Ruivo, garante que a sua autarca atua pelo interesse da capital.
"Quer ela avance ou não como candidata, como presidente da Câmara de Paris, não podia fazer de outra forma", sublinhou, justificando assim a tensão entre a capital e o Estado central.
Em Paris, a covid-19 trouxe uma quebra média da atividade económica de 10% (mais do que a maioria francesa) e já se perderam pelo menos 40 mil postos de trabalho. Por isso, esta semana a presidente da Câmara apresentou um plano de relance económico que quer mobilizar 1,4 mil milhões de euros, mas será preciso encontrar investidores.
"O plano de relance consiste em compreender como para além de injetar dinheiro, já tínhamos distribuído 200 milhões, vermos setor a setor como é que nós podemos ser mais reativos", explicou.
Um dos financiadores possíveis será o Plano de recuperação para a Europa, NextGenerationEU, e foi por isso que Anne Hidalgo e Hermano Sanches Ruivo estiveram recentemente em Bruxelas de forma a tentar persuadir o colégio de comissários a um acesso direto a estes fundos.
No horizonte da capital estão também os Jogos Olímpicos de 2024 que, até agora, não vão mudar de data.
"Não temos nenhuma razão nesta altura para mudar a data dos Jogos Olímpicos. Será 2024. [Sobre] Tóquio estamos a ver qual é a dificuldade, mas não poderão atrasar mais. Serão uns Jogos Olímpicos diferentes", considerou o vereador, detalhando que o projeto inicial em Paris foi agora adaptado para a utilização de espaços já existentes em vez de novas construções.
Quanto ao mal-estar entre a coligação que dirige a capital francesa, onde os Verdes se têm mostrado muito críticos de Anne Hidalgo, Hermano SanchesRuivo, prefere desvalorizar.
"A nível dos vereadores, todos estão a trabalhar bem e sob tutela da presidente da Câmara. O resto é democracia e podemos ter uma visão diferente da democracia e não posso concordar com algumas acusações [da parte dos Verdes]", concluiu.
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