A conclusão consta no relatório anual da agência dos serviços de informações da Estónia, que avança que o Kremlin (Presidência russa) acredita que a crise pandémica vai forçar os países do Ocidente a estarem concentrados nos problemas políticos e económicos internos e que esses mesmos problemas irão provocar, entre outras coisas, o surgimento de movimentos populistas e extremistas.
"Por seu lado, a Rússia está preparada para adicionar combustível às chamas para encorajar essas tendências", refere o relatório citado pela agência noticiosa norte-americana Associated Press (AP).
"Por isso, o ano de 2021 verá novamente operações de influência russa desenvolvidas para criar e aprofundar as divisões dentro e entre as sociedades ocidentais, incluindo ao nível da União Europeia (UE)", menciona o mesmo documento.
O relatório estónio admite, por exemplo, a hipótese da Rússia tentar desacreditar as vacinas contra a doença covid-19 produzidas no Ocidente, em especial a vacina desenvolvida pelo laboratório anglo-sueco AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford, fármaco que já foi alvo de uma campanha de desinformação, denunciada pelos 'media' britânicos em outubro de 2020 e atribuída à máquina de propaganda russa.
"Com estas campanhas de difamação, a Rússia espera, por um lado, criar uma posição mais favorável para as suas próprias vacinas no mercado mundial e, por outro lado, promover a sua ambição estratégica de se mostrar como a primeira entre as grandes potências a ser capaz de fornecer uma solução para a covid-19", destaca o documento.
Atualmente, a Rússia está a promover de forma ativa a sua vacina, conhecida como Sputnik V, em vários países na Europa.
A Hungria, Estado-membro da UE, é até à data o único país do bloco comunitário que adquiriu doses da vacina Sputnik V.
"A pandemia do novo coronavírus não diminuiu as ações e as ambições do regime de Vladimir Putin (Presidente russo). Pelo contrário, podemos ver como há uma tentativa de utilizar a pandemia para colher ganhos para a política interna e externa (da Rússia)", afirmou o diretor-geral dos serviços de informações da Estónia, Mikk Marran, durante uma conferência de imprensa realizada na capital do país, Tallinn.
Sobre a nova administração norte-americana liderada pelo Presidente Joe Biden, o relatório indica que a agenda de Moscovo em relação a Washington não irá ter provavelmente mudanças significativas e irá permanecer "amplamente conflituosa".
As relações da Estónia (país membro da UE e da NATO) com a "vizinha Rússia" têm permanecido reservadas e distantes desde 1991, quando a antiga república soviética de 1,3 milhões de habitantes e os seus "vizinhos" bálticos, Letónia e Lituânia, voltaram a proclamar independência com a queda da União Soviética.
Apesar de estar concentrado em assuntos relativos à Rússia e a outros Estados próximos geograficamente, como Ucrânia e Bielorrússia, o relatório também aborda questões relacionadas com a China.
O documento afirma que o ambicioso plano de Pequim de se tornar líder mundial em tecnologia "representa grandes ameaças à segurança" para o resto do mundo.
A nova geração de redes móveis 5G, a tecnologia avançada de navegação por satélite, os serviços de armazenamento de dados em nuvem e a inteligência artificial são mencionados no relatório como exemplos de como a China espera vir a desempenhar um papel fulcral a nível mundial.
"A liderança da China tem um claro objetivo de tornar o mundo dependente da tecnologia chinesa", conclui o relatório.
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