Médico receia que não haja vacinas suficientes para conter ébola

O diretor do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT) receia que não haja vacinas do Ébola suficientes para conter uma epidemia em larga escala, antevendo um cenário "dramático" se o surto na Guiné-Conacri alastrar aos países vizinhos.

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Lusa
27/02/2021 08:27 ‧ 27/02/2021 por Lusa

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"Há uma grande preocupação porque há a possibilidade de este surto epidémico [na Guiné-Conacri] alastrar novamente para países como a Serra Leoa e a Libéria, tal como aconteceu em 2014", disse Filomeno Fortes.

Filomeno Fortes explicou que "a transição terrestre" entre estes países continua a ser "muito forte", o que promove a circulação da doença.

O médico angolano e especialista em doenças tropicais falava em entrevista à agência Lusa depois de, em 14 de fevereiro, ter sido declarado um novo surto de Ébola na Guiné-Conacri, o primeiro na África Ocidental desde a epidemia de 2014-2016 que matou mais de 11 mil pessoas nestes três países.

Na semana anterior, tinha sido declarado um 12.º surto da doença na República Democrática do Congo.

"Apesar de haver algum confinamento por causa da covid-19, a informação que temos é que as autoridades sanitárias estão a perder o controle da situação", disse.

O surto, que ocorreu na região de N ' Zerekoré, no sudeste da Guiné-Conacri, causou até ao momento cinco mortes e há cerca de três centenas de pessoas em vigilância por suspeitas de terem contraído a doença.

A campanha de vacinação começou na terça-feira, tendo, segundo as autoridades de saúde, sido vacinadas até ao momento pouco mais de duas centenas de pessoas.

Apesar de existir agora uma vacina contra o Ébola aprovada, Filomeno Fortes receia que a produção disponível não seja suficiente para conseguir travar uma eventual contaminação em larga escala.

O diretor do IHMT recordou que na epidemia anterior tinham sido utilizadas de forma experimental 350 mil doses da vacina contra o Ébola.

Em janeiro, a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e os Médicos sem Fronteiras anunciaram que tinham as vacinas, produzidas pela Merk Sharp e licenciadas nos Estados Unidos, Europa e oito países africanos, em 'stock'.

"A OMS está a enviar algumas doses destas vacinas, em pequena quantidade, para a Guiné-Conacri e a República Democrática do Congo", disse Filomeno Fortes, considerando que também a vacina do Ébola é um exemplo de "contradição entre países mais ricos e mais pobres".

O médico lembrou que quando se começou a utilizar experimentalmente a vacina, havia um acordo que previa a produção de pelo menos 500 mil doses que ficariam armazenadas para serem utilizadas a qualquer momento.

"Neste momento, não acreditamos que haja esta produção grande de vacinas", disse, considerando que "se não houver uma boa estratégia combinada" e a doença se transmitir pelos países vizinhos "vai ser dramático".

Filomeno Fortes antevê também dificuldades no "manejo dos doentes", porque a pandemia de covid-19 veio interromper a produção de dois medicamentos experimentais que estavam a ser usados em doentes de Ébola e a "dar alguns resultados".

O médico defendeu que "neste momento, os países têm de reforçar a vacinação dos grupos de alto risco com os técnicos de saúde a ser priorizados com as poucas vacinas que estão a ser enviadas".

"Esta doença tem uma vantagem em relação à covid-19. Os doentes ficam tão debilitados que não se movimentam, é mais fácil fazer o controlo do foco e a transmissão não é tão rápida e tão intensa", disse, assinalando, no entanto, que se trata de uma doença "muito mais mortal".

A Guiné-Conacri registou até agora nove casos de Ébola, incluindo cinco mortes, e as 11.000 vacinas que chegaram, na terça-feira, ao país serão administradas aos doentes e seus contactos, num total de quase 400 pessoas.

O Governo guineense confirmou a deteção do Ébola no seu território em 13 de fevereiro passado e no dia seguinte declarou oficialmente o primeiro surto no país após a grande epidemia de 2014 e 2016 na África Ocidental.

Embora o caso zero seja desconhecido de momento, o ponto de partida é uma enfermeira de Gouéké que morreu entre 27 e 28 de janeiro e cujo funeral foi realizado em 01 de fevereiro, evento após o qual alguns participantes tiveram sintomas de Ébola.

Aquela que foi a pior epidemia de Ébola da história surgiu neste país em finais de 2013, foi declarada em 2014 e prolongou-se até 2016, matando 11.300 pessoas e infetando mais de 28.500, embora esses números, admite a OMS, possam ser conservadores.

Outro surto de Ébola foi confirmado em 07 de fevereiro no nordeste da República Democrática do Congo (RDCongo), onde as autoridades lançaram oficialmente uma campanha de vacinação contra a doença a 15 de fevereiro.

Sete pessoas adoeceram e quatro morreram, de acordo com os números oficiais.

O vírus Ébola é transmitido através do contacto direto com o sangue e fluidos corporais contaminados de pessoas ou animais.

Provoca febres hemorrágicas e pode atingir uma taxa de mortalidade de 90%.

Leia Também: Ébola: Guiné-Conacri lançou hoje campanha de vacinação

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