"Deserções" reforçam expetativas de fim da violência em Moçambique

Analistas moçambicanos consideraram hoje que a adesão de André Matsangaíssa Júnior, um dos principais rostos da autoproclamada Junta Militar da Renamo, ao acordo de paz, reforça as expetativas do fim da violência armada no centro do país.

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Estevão Chavisso
02/03/2021 14:36 ‧ 02/03/2021 por Estevão Chavisso

Mundo

Moçambique

"Há uma esperança mais forte [em relação ao fim da violência armada] com as deserções que estão a acontecer no topo da hierarquia da Junta Militar", disse Egna Sidumo, pesquisadora do Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), uma entidade moçambicana de pesquisa independente.

Egna Sidumo falava numa conferência sobre a "Abertura do ano Político 2021: Balanço do Ano Político 2020 e perspetivas para 2021", promovida pelo Instituto para Democracia Multipartidária (IMD, na sigla em inglês), organização da sociedade civil moçambicana.

A pesquisadora, que é também docente universitária, apontou em concreto o facto de André Matsangaíssa Júnior ter sido recebido pelo Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, após deixar a Junta Militar, como um passo importante para o sucesso do processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR) da guerrilha da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) e da adesão dos membros da Junta Militar à operação.

Egna Sidumo defendeu o envolvimento de mais atores sociais e políticos na implementação do Acordo de Paz e Reconciliação Nacional, assinado entre o Governo moçambicano e a Renamo, em 06 de agosto de 2019, para o bom desfecho das etapas preconizadas no entendimento.

Dércio Alfazema, membro do IMD e analista político, também assinalou o impacto do abandono da Junta Militar por André Matsangaíssa Júnior no fim da violência militar no centro do país.

"Estes abandonos criam-nos a esperança de que o DDR vai continuar num percurso satisfatório, porque a Junta Militar está cada vez mais fragilizada", enfatizou Alfazema.

André Matsangaíssa Júnior era um "estratega-chave" da Junta Militar da Renamo e a sua saída do movimento vai afetar as ações do grupo, acrescentou.

Dércio Alfazema observou, contudo, que a implementação do Acordo de Paz e Reconciliação Nacional e do DDR não deve ser monopólio do Governo e da Renamo, porque a paz é um bem coletivo.

"O processo deve ser monitorizado pela sociedade civil e deve ser implementado com máxima transparência", declarou.

André Matsangaíssa Júnior é sobrinho de André Matade Matsangaíssa, fundador e primeiro comandante da Renamo, tendo dirigido a organização quando esta iniciou a guerra civil contra o Governo da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), em 1977, até à sua morte em combate, em 1979.

André Matsangaíssa Júnior foi recebido na segunda-feira em Maputo pelo Presidente moçambicano, tendo anunciado a sua adesão ao DDR.

"O objetivo que me trouxe aqui é a paz no centro de Moçambique", disse aos jornalistas, momentos após uma reunião com Filipe Nyusi e o enviado especial do secretário-geral das Nações Unidas em Moçambique, Mirko Manzoni, na Presidência da República.

Matsangaíssa Júnior é o terceiro rosto da autoproclamada Junta Militar da Renamo que se rende, depois de João Machava e Paulo Nguirande, dois outros membros influentes daquele grupo que contesta a liderança da Renamo e acusa o atual líder do partido de ter desviado o espírito das negociações de paz com o Governo.

A autoproclamada Junta Militar da Renamo, liderada por Mariano Nhongo, antigo dirigente de guerrilha, é acusada de protagonizar ataques armados contra civis e forças governamentais em estradas e povoações das províncias de Sofala e Manica, centro de Moçambique, incursões que já provocaram a morte de, pelo menos, 30 pessoas desde agosto do ano passado.

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