Dirigindo-se às autoridades iraquianas, Francisco pediu para que "ninguém seja considerado um cidadão de segunda classe", num país muçulmano onde os cristãos são apenas 1% dos 40 milhões de habitantes.
"É fundamental garantir a participação de todos os grupos políticos, sociais e religiosos e garantir os direitos fundamentais de todos os cidadãos", afirmou.
"Que as armas se calem! Que a sua disseminação seja limitada, aqui e em qualquer lado!", defendeu no início de uma visita de três dias ao Iraque, país dilacerado por 40 anos de violência, nomeadamente pelo grupo 'jihadista' Estado Islâmico (EI), derrotado em 2017.
É preciso "acabar com os interesses partidários, que não se interessam pela população local", sublinhou o papa, acrescentando que "chega de violência, extremismo, fações, intolerância".
Francisco pediu ainda que Bagdade "combata o flagelo da corrupção, abuso de poder e ilegalidade" naquele que é considerado um dos países mais corruptos do mundo.
"Devemos construir justiça, aumentar a honestidade, a transparência e fortalecer as instituições", referiu o líder dos 1,3 mil milhões de católicos do mundo, que, no final de 2019, defendeu os manifestantes iraquianos durante uma revolta, denunciando a corrupção do país.
O papa chegou hoje ao Iraque para uma visita que considera "um dever", apesar da polémica gerada em torno da visita por causa dos riscos no âmbito da pandemia de covid-19 e dos últimos ataques com mísseis contra bases da coligação internacional.
Apesar da visita ser uma das mais difíceis e arriscadas do seu pontificado, Francisco tem como objetivo estar perto da comunidade cristã do país, brutalmente perseguida pelos extremistas do EI durante pelo menos três anos.
Sob alta proteção e movimentando-se sozinho e com máscara facial, para cumprir as regras de proteção contra a covid-19, o pontífice, de 84 anos, afirmou querer confortar uma das comunidades cristãs mais antigas do mundo, enfraquecida pela violência e pela pobreza.
Durante a sua estada - que terminará na segunda-feira depois de 1.445 quilómetros percorridos principalmente por via aérea para evitar áreas onde os 'jihadistas' ainda se escondem - o papa também irá visitar muçulmanos num encontro com o aiatola Ali Sistani, autoridade máxima de muitos xiitas no Iraque e no mundo.
Apesar de tudo, o papa exortou os cristãos a ficarem ou a regressarem ao Iraque, onde estão 400.000, cerca de um terço dos 1,5 milhões que ali existiam há 20 anos.
Um regresso que pode ser "difícil", já que o Iraque conta com 40 anos de guerras e crises, mas que é "obrigatório", segundo defendeu o cardeal Leonardo Sandri, que dirige a congregação das igrejas orientais no Vaticano e que acompanha o papa na visita.
De acordo com a fundação Ajuda à Igreja que Sofre, apenas 36.000 dos 102.000 cristãos que deixaram o norte do Iraque durante a ocupação do EI voltaram a casa, dos quais um terço já admitiu pretender deixar o país até 2024 por medo das milícias e por causa do desemprego, da corrupção e das discriminações.
Nos três dias de visita, o papa irá ao sul, a Ur dos caldeus, e ao norte, à planície de Nínive e a Mosul e Qaraqosh, onde os cristãos se concentravam antes de as cidades terem sido destruídas pelo EI, além de Erbil, capital do Curdistão, que deu abrigo a quem fugia dos 'jihadistas'.
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