O Brasil registou, nas últimas 24 horas, 1.972 óbitos relacionados com a Covid-19 (o maior número diário desde o início da pandemia) e 70.764 novas infeções, de acordo com a atualização feita pelo Ministério da Saúde esta terça-feira, dia 9 de março.
A situação epidémica no Brasil enfrenta, desde há umas semanas, o pior momento da pandemia. Até hoje, o número mais elevado de óbitos diários (1.910) tinha sido registado na semana passada, dia 3 de março.
No total, desde o início da pandemia, há mais de um ano, o Brasil regista mais de 11 milhões de casos confirmados de infeção e 268.370 mortes.
Segundo o Conselho Nacional dos Secretários Estaduais de Saúde, a média móvel de mortes do Brasil é hoje de 1.573, novo recorde pelo 14º dia consecutivo.
Naquele que é o pior momento da pandemia no país, a taxa de incidência da doença em território brasileiro aumentou hoje para 128 mortes e 5.293 casos por 100 mil habitantes.
Os Estados brasileiros que concentram o maior número de infeções são São Paulo (2.134.020), Minas Gerais (928.402), Paraná (733.223) e Bahia (720.068).
Por outro lado, as unidades federativas com mais mortes pela covid-19 são São Paulo (62.101), Rio de Janeiro (33.824), Minas Gerais (19.605) e Rio Grande do Sul (13.837).
Desde o início de março até hoje, pelo menos 30 pacientes com covid-19 morreram na fila de espera por camas de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) no estado de São Paulo, o mais rico e populoso do Brasil, mas também o foco da pandemia do país, segundo um levantamento feito pelo portal de notícias G1.
São Paulo tem agora a sua maior taxa de ocupação de camas de UTI desde o início da pandemia (82%), e o total de pacientes internados chegou a 20.300, ainda segundo o G1.
Dezanove hospitais estaduais de São Paulo atingiram 100% da ocupação de camas de UTI destinadas à covid-19, e outros seis estão com taxas superiores a 95% de ocupação.
Além de atravessar um forte agravamento da pandemia, o Brasil lida ainda com a nova estirpe detetada no Amazonas (P.1), que já se espalhou pelo território nacional e que, segundo o próprio Ministério da Saúde brasileiro, é pelo menos "três vezes mais contagiosa" do que a original.
Apesar de o país sul-americano, com cerca de 212 milhões de habitantes, estar a enfrentar um novo pico da pandemia, o Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, recusou esta segunda-feira decretar um 'lockdown' a nível nacional, frisando que não usará o seu Exército para "obrigar o povo a ficar em casa", naquele que é o pior momento da pandemia no país.
"Alguns querem que eu decrete 'lockdown'. Não vou decretar. E podem ter certeza de uma coisa: o meu Exército não vai para a rua para obrigar o povo a ficar em casa. O meu Exército, que é o Exército de vocês. Fiquem tranquilos no que toca a isso. Agora, vamos ver até onde o Brasil aguenta esse estado. Eu quero paz, tranquilidade, democracia, respeito às instituições. Mas alguns estão se excedendo", disse hoje Bolsonaro a apoiantes, em Brasília, citado pela imprensa local.
Bolsonaro, um dos chefes de Estado mais negacionistas em relação à gravidade da covid-19 e que desde o início da pandemia se tem posicionado contra as medidas de isolamento social, voltou hoje a defender que a população brasileira saia à rua, num momento de recordes diários de mortes e novos casos de infeção.
O Brasil atravessa um momento de forte agravamento da pandemia, em parte atribuída a uma estirpe mais agressiva do vírus, detetada no Amazonas, mas também ao comportamento da população e à falta de medidas unificadas no país.
Nesse sentido, e na contramão do que defende Bolsonaro, o investigador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Amazónia Felipe Naveca, que sequenciou a nova estirpe detetada no Brasil, frisou que o Brasil "não pode atrasar demais a adoção de medidas" restritivas a nível nacional.
"Não fizemos, em nenhum momento, um 'lockdown mesmo', para valer, em nenhuma região do país. Então é isso: quanto mais casos você tem, mais mutações, e maior a possibilidade de surgir uma variante do vírus. E foi o que aconteceu em Inglaterra, onde o surgimento dessa variante se deu logo após as férias de verão, quando houve uma queda no distanciamento", disse o especialista,
"Não podemos atrasar demais a adoção dessas medidas, lembrando que a nossa vacinação ainda está muito no início, e quanto mais tempo demorar, mais pessoas infetadas teremos, e vai ser cada vez mais difícil contornar a situação", salientou o investigador da Fiocruz, instituição científica de referência na América Latina.
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