"Crianças não acompanhadas começaram a chegar à cidade costeira de Pemba, na província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, depois dos ataques brutais na semana passada por insurgentes em Palma e nas áreas circundantes", refereiu a organização não-governamental (ONG) num comunicado.
A ONG sediada em Londres estima que 3.100 pessoas tenham fugido de Palma nos últimos dias através do mar ou de bosques e que há "um número desconhecido agora em Pemba".
A ONG anunciou também que destacou uma equipa de proteção de menores e especialistas em água e saneamento para o porto e para o aeroporto de Pemba para "apoiar as chegadas dos que fogem à recente violência".
"A organização está, em especial, focada em crianças não acompanhadas, que viajam sem família ou companhia de adultos.
O diretor da organização em Moçambique, Chance Briggs, citado em comunicado, assinalou que "as crianças testemunharam cenas de horrores inimagináveis e inenarráveis".
"Nem sequer conseguimos imaginar o que é que sentem ou o medo que vai no coração dos seus pais", sublinhou o responsável, que alertou para a vulnerabilidade das crianças que surgem isoladas.
"É uma situação terrível e horrorosa para crianças, pais, comunidade e para todas as pessoas em Cabo Delgado", lamentou Briggs.
Na nota, o responsável da ONG em Moçambique lançou um apelo à comunidade internacional para "libertar fundos para apoiar estas crianças".
"Elas precisam urgentemente de apoio, tanto para as necessidades básicas -- comida, abrigo e cuidados médicos --, como para ajudá-las a recuperar mentalmente destes ataques. Isto significa apoio psicossocial por parte de especialistas treinados", disse.
Chance Briggs acrescentou que todas as partes envolvidas no conflito "devem assegurar que as crianças nunca são o alvo", pedindo respeito pelas leis humanitárias internacionais e pelos direitos humanos.
Desde domingo já tinham chegado a Pemba cerca de duas mil pessoas, sobretudo funcionários do projeto de gás e trabalhadores de outras empresas e serviços, segundo dados de diferentes fontes, mas sem confirmação oficial.
Perto de 200 pessoas começaram hoje à tarde a desembarcar no aeroporto de Pemba, numa operação que continua, enquanto no porto se prepara o desembarque de outras 160 pessoas que chegaram por barco.
Os meios estão a ser mobilizados tanto pelas autoridades moçambicanas como por empresas privadas no intuito de socorrer os funcionários locais e suas famílias.
Para a manhã de quarta-feira está marcada a chegada a Pemba de um navio com cerca de mil deslocados de Palma.
Ao contrário do que aconteceu após outros ataques de grupos rebeldes em 2020, desta vez não se verificou uma chegada em massa de embarcações artesanais lotadas às praias de Pemba.
A violência está a provocar uma crise humanitária com quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes.
O movimento terrorista Estado Islâmico reivindicou na segunda-feira o controlo da vila de Palma, junto à fronteira com a Tanzânia.
Vários países têm oferecido apoio militar no terreno a Maputo para combater estes insurgentes, mas, até ao momento, ainda não existiu abertura para isso, embora haja relatos e testemunhos que apontam para a existência de empresas de segurança e de mercenários na zona.
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