Esta organização, fundada por académicos e jornalistas de investigação, publicou no seu 'site' doze documentos secretos, por ocasião do 57º aniversário do golpe militar no Brasil, que mostram "o esforço do regime brasileiro para subverter a democracia e apoiar a ditadura no Chile".
Entre esses textos está um telegrama enviado em março de 1971 pelo então embaixador do Chile no Brasil, Raúl Rettig, ao Ministério das Relações Exteriores do seu país, intitulado "As Forças Armadas brasileiras possivelmente (estão) levando a cabo estudos sobre guerrilhas que estão a ser introduzidas no Chile".
Naquela época, várias fontes haviam informado a delegação diplomática de que o regime militar brasileiro estava a avaliar como instigar uma insurreição para derrubar o Governo de Allende.
Além disso, haviam revelado a existência de uma sala de operações no Brasil com mapas da Cordilheira dos Andes para planear como se infiltrar, segundo o telegrama, classificado à época como "estritamente confidencial".
Segundo Rettig, "as Forças Armadas brasileiras aparentemente enviaram ao Chile vários agentes secretos, que teriam entrado no país como turistas, com a intenção de obter mais informações sobre as possíveis regiões em que um movimento guerrilheiro poderia operar".
O embaixador ressaltou, porém, que ainda não havia uma data para o início deste "movimento armado".
Este telegrama faz parte de centenas de documentos obtidos pelo jornalista de investigação Roberto Simon para o seu livro "O Brasil contra a democracia: A ditadura, ou golpe no Chile e a Guerra Fria na América do Sul", publicado no mês passado em território brasileiro.
A obra reúne arquivos do Brasil, Chile e Estados Unidos, que expõem o papel desempenhado pelo regime militar brasileiro no golpe de 11 de setembro de 1973 que permitiu ao general Pinochet chegar ao poder, assim como a sua contribuição para a repressão no Chile.
Outro dos documentos, que o livro contém, retrata uma cena em dezembro de 1971, na Casa Branca, protagonizada pelo Presidente norte-americano Richard Nixon e pelo general Emílio Garrastazu Médici, um dos mandatários que o Brasil teve durante a ditadura militar, que vigorou entre 1964 e 1985.
Ambos os líderes falaram sobre os esforços para derrubar Allende.
Médici disse a Nixon que o chileno deveria ser deposto "pelos mesmos motivos que (João) Goulart (Presidente do Brasil entre 1961 e 1964) havia sido deposto no Brasil", além de deixar claro que o seu país estava a trabalhar para esse fim.
Por sua vez, o mandatário norte-americano respondeu que é importante que os Estados Unidos e o Brasil trabalhassem juntos "nesse âmbito" e ofereceu "ajuda discreta" às operações brasileiras contra o Governo Allende.
Nos documentos divulgados hoje, há um relatório da CIA sobre reuniões com alguns oficiais militares brasileiros, que indicaram que "os EUA obviamente queriam que o Brasil 'fizesse o trabalho sujo' na América do Sul".
Leia Também: Brasil bate novo recorde com 3.869 mortes por Covid-19 em 24h