"A esquerda quer que o Governo [brasileiro] de [Jair] Bolsonaro não vá bem, pessoalmente acho que tem gente que quer um conflito entre a França e o Brasil", lamentou o diplomata, em declarações hoje à Efe, no dia em que entrou em vigor a suspensão dos voos com o Brasil decretada pelo Governo francês até 19 de abril.
"Eles querem que eu critique essa decisão francesa e digo que não vou comentar, porque é uma decisão soberana que deve ser respeitada. Eu digo e repito", insistiu Serra.
O diplomata brasileiro também descartou que a suspensão das ligações aéreas pudesse afetar os negócios franceses no Brasil e deu como exemplo a recente licitação de aeroportos regionais que a empresa francesa Vinci ganhou para administrar no Brasil.
"A França sabe da importância do Brasil para os investimentos franceses. A França investiu mais no Brasil do que a própria China", disse Serra.
A França é um dos mais importantes parceiros comerciais e o primeiro empregador estrangeiro do Brasil, com 500 mil brasileiros a trabalharem em empresas francesas ou suas subsidiárias.
Serra também manifestou a sua indignação com as declarações de alguns comentadores franceses, que acusam Bolsonaro de não ter feito nada para conter a pandemia.
"Como não fez nada? Se é o quinto país do mundo que mais vacina, depois de três países com população maior que o Brasil. O único país que vacinou mais que o Brasil com população menor é o Reino Unido", disse o embaixador brasileiro.
Sobre os voos de repatriação de brasileiros em França, Serra esclareceu que o consulado-geral do Brasil - encarregado destes procedimentos - ainda não entrou em contacto com a Embaixada para fretar aeronaves.
O diplomata também avaliou que "não deve haver muitos turistas brasileiros" em França devido às restrições que vigoram no país europeu e que incluem o encerramento de espaços culturais e o recolher obrigatório.
Precisamente na manhã de hoje, os dois últimos voos do Brasil chegaram a Paris antes da aplicação da suspensão.
Numa entrevista, o secretário de Estado dos Transportes francês, Jean-Baptiste Djebbari, calculou que apenas cerca de 50 passageiros diários entraram no país vindos do Brasil durante a pandemia, em comparação com cerca de 7 mil desembarques diários registados antes da crise sanitária.
O Brasil registou 358.425 vítimas mortais e 13.599.994 infeções por covid-19 desde o início da pandemia.
A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.947.319 mortos no mundo, resultantes de mais de 136,5 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Leia Também: Brasil. Senado avança com inquérito a gestão da pandemia por Bolsonaro