Maria José Casa Nova, que falava numa sessão virtual sobre a história da exclusão dos ciganos e os desafios da comunidade na União Europeia (UE), destacou a educação como "pilar fundamental" para o desenvolvimento pessoal e social da população cigana.
Para a integração das populações ciganas na sociedade, a investigadora apontou "a existência de professores ciganos, uma cultura de direitos humanos e dignidade humana e uma educação intercultural" como medidas "muito importantes para serem implementadas em todos os países".
De modo a que "as crianças e os jovens [ciganos] sintam que o mundo também lhes pertence, uma das primeiras medidas é tentar educar o sistema e fazer sentir que a escola pertence aos ciganos", frisou.
Isto porque, segundo a professora da Universidade do Minho, "é importante que os ciganos queiram ser participantes na atividade da escola não só como estudantes, mas, mais tarde, como professores".
A coordenadora sublinhou, por outro lado, a importância da formação de professores "para terem informações e falarem com os alunos sobre o antirracismo".
"É importante que os professores pesquisem sobre as melhores práticas para educarem os estudantes e influenciá-los a alterar as suas perspetivas e o seu conhecimento sobre os diferentes povos. O professor tem de ser um mediador cultural e tem de desenvolver os dispositivos pedagógicos", afirmou.
Maria José Casa Nova defendeu o envolvimento dos pais como "crucial" para o sucesso dos estudantes ciganos, que devem ser convidados a ir às escolas "não para criticar as crianças, mas para participarem na preparação de futuras atividades levadas a cabo pela escola".
Os pais ciganos devem "participar nas associações de pais", porque "os pais e as famílias também são parte da escola e a escola é parte da comunidade", acrescentou.
Tendo em conta o "desenvolvimento de uma cultura escolar de respeito e de heterogeneidade", a professora universitária propôs que as escolas "desenvolvam um código antidiscriminação".
"Um desenvolvimento participativo com o envolvimento da comunidade e um código específico para cada contexto, que seja significativo para aquela comunidade escolar e social", sustentou.
Sobre o movimento discriminatório contra a também conhecida como comunidade roma, "muito enraizado" na sociedade, Maria José Casa Nova admite tratar-se de "um impasse que está ao nível do subconsciente e escondido em termos do comportamento de todos os cidadãos" e assinala que, "hoje em dia, as mentalidades constituem a instituição mais difícil de alterar".
No entanto, essa mentalidade pode ser desconstruída se, no dia a dia, "tivermos todo o tipo de atores que fazem parte da sociedade no mercado de trabalho, na educação, nas escolas, nas entidades, nas políticas públicas", disse, acrescentando ser preciso "naturalizar todas as diferenças, sobretudo no caso das pessoas roma".
"É preciso fazer isto com os ciganos, mas temos mesmo de ter pessoas ciganas educadas, com acesso a níveis superiores de educação, para poderem transmitir aos outros e se representarem", concluiu.
Maria José Casa Nova participou hoje numa videoconferência intitulada "Trabalhar em conjunto pelos direitos dos Ciganos", organizada pela presidência do Conselho de Ministros e pelo secretariado geral do Conselho da UE, no âmbito da presidência portuguesa do Conselho da UE.