O diplomata português comparou a situação com um "divórcio", admitindo que a relação entre Londres e Bruxelas "não tem sido colaborativa, nem muito construtiva, nem muito positiva" e que este é o resultado de "anos de negociações complicadas".
"Lamento que às vezes o Governo britânico tenha optado por agir de forma unilateral em vez de uma forma mais construtiva. Eu vejo sinais de isto estar a mudar e espero que seja sustentável", acrescentou o embaixador, durante a palestra anual no Centro de Excelência Jean Monnet da Universidade de Manchester, em que foi orador convidado.
Em declarações à BBC, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, disse na terça-feira estar a trabalhar para acabar com as "barreiras ridículas" que o acordo do Brexit impôs ao comércio entre a província da Irlanda do Norte e o resto do Reino Unido.
Johnson sublinhou que tomará as "medidas necessárias" caso a UE se recuse a eliminar os aspetos "absurdos" do novo acordo que entrou em vigor em Janeiro passado.
O Reino Unido já adotou medidas unilaterais para atrasar a aplicação de controles alfandegários aos produtos que entram no mercado da UE através da Irlanda do Norte, o que levou Bruxelas a iniciar um procedimento de infração a 15 de março por considerar que o Governo britânico violou o Protocolo sobre a Irlanda e a Irlanda do Norte.
Na semana passada, as duas partes comprometeram-se na semana passada a "intensificar" as discussões para resolver os problemas, que levaram à falta de alguns produtos nas lojas na Irlanda do Norte.
Porém, do lado britânico, o secretário de Estado para as Relações com a UE, David Frost reconheceu que "um certo número de dificuldades persiste" e é "importante continuar a discuti-las".
Além do diferendo relativo ao protocolo da Irlanda do Norte, assistiu-se a um agravamento da tensão naquela região britânica com uma vaga de confrontos violentos que resultaram em quase 100 polícias feridos.
O novo acordo comercial entre Londres e o bloco comunitário, no âmbito do 'Brexit', impôs controlos aduaneiros e fronteiriços a algumas mercadorias que circulam entre a Irlanda do Norte e o resto do Reino Unido.
O acordo foi elaborado para evitar controlos entre a Irlanda do Norte e a Irlanda, um membro da UE, uma vez que uma fronteira irlandesa aberta ajudou a sustentar o processo de paz construído pelo Acordo de Sexta-Feira Santa em 1998, que terminou na altura com três décadas de violência que provocaram mais de 3.000 mortes.
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