Nalguns casos recorrem a tratamentos médicos não comprovados e noutros ao mercado negro de medicamentos que faltam nos hospitais, indica a agência norte-americana Associated Press.
Ashish Poddar recorreu a um traficante para obter remdesivir, um antiviral, e tocilizumab, um medicamento que atenua a resposta imunitária. O hospital privado onde o seu pai, Raj Kumar Poddar, 68 anos, infetado com covid-19, estava a ser tratado disse que eram necessários para o manter vivo, mas são medicamentos em falta na maioria dos hospitais e farmácias da capital indiana.
O traficante prometeu os remédios depois de receber um adiantamento de quase 1.000 dólares (cerca de 825 euros), mas estes nunca chegaram e o pai de Ashish Poddar morreu.
"Pelo menos podia ter-me dito que não vinha. Eu poderia ter procurado noutro sítio", lamenta o filho enlutado, citado pela AP.
Segundo a agência norte-americana, embora a Índia seja um dos principais produtores de remédios em todo o mundo, a sua regulamentação de medicamentos já era deficiente antes da pandemia. E o desespero crescente está a levar as pessoas a tentar qualquer coisa.
Nas últimas 24 horas a Índia registou 379.257 casos de coronavírus, um novo recorde mundial de contágios. O país registou recordes diários em seis dos últimos sete dias.
As mortes contabilizadas na quarta-feira foram 3.645, também um número recorde, que fez subir o total de mortos desde o início da pandemia para os 204.832.
Mas alguns pensam que o número real é muito superior.
"Pessoas que morrem em confinamento domiciliário e não têm relatório de coronavírus positivo, contamos como não covid" e não entram para os números da pandemia no país, disse o funcionário de um "registo de cadáveres" junto a um crematório situado no sul de Nova Deli, que não quis ser identificado.
"Temos apenas 18 piras no crematório, mas agora estamos a receber 60-70 mortos todos os dias (...) entre 25 e 30 por coronavírus (...) Tivemos de cremar fora das piras também", indicou a mesma fonte citada pela agência noticiosa espanhola EFE.
Rajendra Kumar, condutor de uma das ambulâncias que, segundo a EFE, chegam sem parar aquele crematório, no caso vinda da morgue do hospital AIIMS, o principal de Nova Deli, disse à agência espanhola que traz "uns 20 corpos por dia, cinco ao mesmo tempo, ou 10, 12...".
"Há um registo por baixo", afirma o presidente do Fórum de Médicos e Cientistas Progressivos da Índia.
Harjit Singh Bhatti disse à EFE que "o sistema de registo indiano não foi bem desenvolvido e vária de estado para estado", adiantando que "em estados que não têm um bom sistema de saúde, como Utar Pradesh, Bihar e outros estados pobres, os dados são sempre duvidosos".
O médico referiu ainda que, devido à situação crítica no país, em algumas zonas as pessoas estão a ter problemas para fazer o teste do vírus e, mesmo quando o fazem, muitas vezes não recebem os resultados.
Nova Deli anunciou hoje que receberá nos próximos dias medicamentos e equipamentos de oxigénio de mais de 40 países, incluindo Portugal, no âmbito de um compromisso internacional para ajudar o país.
O ministro dos Negócios Estrangeiros, Harsh Shringla, destacou que neste momento as prioridades estão centradas na distribuição de oxigénio líquido, atualmente em escassez no país com mais de 1,35 mil milhões de habitantes e que ultrapassou, nas últimas 24 horas, a barreira das 18 milhões de infeções.
A pandemia de covid-19, transmitida por um novo coronavírus (SARS-Cov-2) detetado em dezembro de 2019 na China, provocou pelo menos 3,1 milhões de mortos no mundo, resultantes de mais de 149,5 milhões de casos de infeção, segundo um balanço da agência France-Presse.
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