Em entrevista à Lusa, em Bruxelas, onde continua a seguir de muito perto a atualidade europeia, agora como conselheiro especial da Comissão, à qual presidiu entre 2014 e 2019, Juncker, num olhar sobre os quatro meses já decorridos do semestre português ao leme do Conselho da UE, faz um balanço "bastante positivo", salientando que tal não constitui uma surpresa, dadas a "profunda convicção europeia do primeiro-ministro e dos membros do Governo".
"Portugal fez um bom trabalho, tal como fez anteriormente. Sempre que Portugal esteve na presidência [do Conselho], a União Europeia fez progressos, umas vezes lentos, outras vezes rápidos. Devo dizer que, sendo Portugal um membro de longa data da União Europeia, sempre fez tudo o que era do interesse do processo de integração europeia. E isso foi um sucesso e tanto", afirma.
Sendo esta quarta presidência portuguesa marcada pela gestão da crise provocada, aos mais diversos níveis, pela pandemia da covid-19, Jean-Claude Juncker reconhece o desafio adicional que tal representa, dada a tentação dos Estados-membros de agirem unilateralmente, para mais em domínios, como os da saúde ou da gestão das fronteiras, em que não existe uma verdadeira competência europeia.
"Era e é muito difícil unir de uma forma clara e coordenada os esforços europeus quando se trata de lutar contra a pandemia. Logo no início desta crise pandémica, assistimos a uma política europeia que se caracterizava pelo facto de cada um dos Estados-membros estar a cozinhar a sua própria sopa pandémica no seu próprio canto", observa.
Lembrando a título de exemplo o sucedido com "o encerramento de fronteiras" decretado por muitos Estados-membros, em grande parte dos casos sem avisos prévios aos restantes, ou a decisão de alguns países de proibirem a exportação de equipamento médico, "o que não foi útil", Juncker aponta que "era bastante óbvio que os governos reagiam no seu próprio canto no seu próprio território nacional", sem atender à dimensão europeia da crise.
De acordo com o antigo presidente do executivo comunitário, "as coisas melhoraram desde então, porque os membros do Conselho Europeu solicitaram à Comissão Europeia que se encarregasse da vacinação" - não do processo em si, mas da aquisição e entregas -, "e a presidência portuguesa fez tudo para que os Estados-Membros respeitassem a dimensão europeia da questão pandémica".
"Portugal foi de uma grande ajuda a esse respeito", enalteceu.
Sob o lema «Tempo de Agir -- por uma recuperação verde, justa e digital», Portugal assume até 30 de junho próximo a presidência semestral do Conselho da UE, que, tal como as duas anteriores -- exercidas pela Croácia, no primeiro semestre de 2020, e pela Alemanha, no segundo -, tem sido fortemente condicionada pela pandemia da covid-19.
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