No último ano foram registadas 32 violações, incluindo o desaparecimento de um jornalista, Ibraimo Mbaruco, predominando as agressões físicas, com 10 casos, segundo o relatório sobre 'O Estado das Liberdades de Imprensa e de Expressão', que junta dados de 2019 e 2020 aos de anos anteriores.
De acordo com o relatório do Misa, em 2016 tinham sido registados 11 casos, número que subiu para 21 em 2017, 24 no ano de 2018, 20 casos em 2019 e 32 registos em 2020.
A organização considera que "um dos motivos do crescimento dos crimes contra os jornalistas em Moçambique, justifica-se na impunidade dos seus perpetradores e falta de ação das autoridades perante estas ocorrências".
Como exemplo, o Misa Moçambique aponta a "manifesta apatia das autoridades policiais na investigação" ao fogo posto à redação do semanário Canal de Moçambique, a 23 de agosto de 2020, um dos casos que marcou o último ano.
A associação de defesa da liberdade de imprensa destaca ainda, a 07 de abril de 2020, o rapto e o desaparecimento de Ibraimo Mbaruco, jornalista da Rádio Comunitária de Palma, em Cabo Delgado, ainda sem esclarecimento e sem que se conheça o seu paradeiro.
Noutro caso, Amade Abubakar, jornalista também em Cabo Delgado, que reportava sobre a guerra naquela província, foi ilegalmente detido em 2019 e mantido incomunicável, num quartel militar, durante 11 dias.
Foi posteriormente acusado de sete crimes, entre os quais, instigação à desobediência coletiva e crime contra o Estado, num processo "sem provas", diz o Misa, que o contestou para o Tribunal Superior de Recurso de Nampula, onde aguarda decisão.
A declaração do Estado de Emergência pelo Governo para prevenção da covid-19 também fez aumentar as violações das autoridades, nota, apontando abusos e detenções arbitrárias contra os jornalistas Arcénio Sebastião e Jorge Malangaze, da Deutsche Welle, e de Omardine Omar, da Carta de Moçambique.
A organização relata uma "radicalização do discurso político contra a imprensa que reporta sobre a guerra em Cabo Delgado" e também o que classifica como "controlo político e económico dos media" com "elevada influência do partido dominante, a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo)" - tudo a par de um "aumento de autoritarismo" na perspetiva de índices globais.
O relatório é divulgado no Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, data a propósito da qual o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, divulgou uma mensagem em que promete "defender o direito à informação".
"Continuaremos a apostar na melhoria a qualidade da atividade de imprensa e a facilitar o seu exercício através da aprovação da carteira profissional do jornalista, criação de uma política de comunicação para o desenvolvimento e regulamentação das rádios e televisões comunitárias, entre outras intervenções urgentes", referiu na mesma mensagem.
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