A missa na Basílica de São Pedro, no Vaticano, em que estavam presentes poucas centenas de fiéis, na maioria estudantes e religiosos birmaneses, decorreu depois de vários apelos à paz feitos nos últimos meses por Francisco, que visitou a Birmânia em novembro de 2017, sendo esta viagem a primeira visita papal a uma nação predominantemente budista.
Na homilia, o sumo pontífice argentino evitou denunciar abertamente o regime militar birmanês que derrubou, a 01 de fevereiro, o Governo eleito de Aung San Suu Kyi e, em vez disso, pediu aos fiéis para que sejam "firmes na verdade", exortando-os a não perder a esperança.
"Queridos irmãos e irmãs, nestes dias em que vosso amado país, Birmânia, conhece a violência, o conflito e a repressão, perguntemos a nós mesmos: o que somos chamados a manter? Em primeiro lugar, a manter a fé", afirmou.
"Não percam a esperança. Hoje, Jesus está a interceder perante o Pai por todos nós, orando para que Ele nos afaste do maligno e nos liberte do poder do mal", afirmou.
Francisco apelou também à unidade, considerando a divisão entre as comunidades e os povos uma "doença mortal".
"Sei que algumas situações políticas e sociais são maiores do que nós. Mas o compromisso com a paz e com a fraternidade vem sempre de baixo: cada pessoa, nas pequenas coisas, pode fazer a sua parte. No meio da guerra, da violência e do ódio, a fidelidade ao Evangelho e o ser pacificador exigem empenho, também através de opções sociais e políticas, mesmo com risco de vida", realçou.
Números divulgados por vários grupos de acompanhamento da situação em Myanmar indicam que as forças de segurança da Junta Militar já provocaram a morte a mais de 750 manifestantes e transeuntes durante as tentativas para pôr cobro aos protestos da oposição.
No terreno, uma milícia birmanesa que combate a Junta Militar admitiu que cinco dos seus membros foram mortos nos últimos dias de confrontos no país, numa altura em que também o Reino Unido e os Estados Unidos voltaram a condenar a violência do exército contra civis.
"Pelo menos cinco dos nossos membros foram mortos e mais de dez ficaram feridos" esta semana, disse um porta-voz da Força de Defesa de Chinland (CDF), uma milícia formada na cidade de Mindat, que se tornou um ponto importante no país, no estado ocidental de Chin.
Segundo o porta-voz, cinco moradores de Mindat também foram presos pelo exército.
O país está em crise desde que os generais birmaneses derrubaram o governo eleito de Aung San Suu Kyi, desencadeando uma revolta maciça que as autoridades tentam reprimir pela força.
Os rebeldes criaram milícias locais equipadas com armas caseiras para proteger as cidades das forças de segurança.
Com os dados móveis de telemóvel bloqueados em todo o país, as informações sobre o conflito demoram a ser divulgadas e a verificação no local é mais difícil, pois os moradores temem represálias.
O porta-voz do CDF disse à agência noticiosa France-Presse (AFP) que os milicianos atearam fogo a vários camiões do exército e emboscaram várias unidades de reforços, enquanto os militares atacavam a cidade com artilharia, pelo que se retiraram para a floresta para escapar aos bombardeamentos.
"Mas estaremos de volta aos ataques em breve. Só temos armas caseiras. Não é o suficiente", acrescentou o porta-voz da milícia, sublinhando que os residentes que permanecem em Mindat -- sob lei marcial desde quinta-feira -- estão com medo de deixar as suas casas por recearem ser alvo dos militares.
As embaixadas dos Estados Unidos e do Reino Unido no país pediram sábado às forças de segurança que parem com a violência em Mindat, onde residem mais de 40.000 pessoas.
"A utilização de armas de guerra pelo exército contra civis, inclusive nesta semana em Mindat, é mais uma demonstração dos extremos a que o regime está preparado para se rebaixar para permanecer no poder", denunciou a embaixada dos Estados Unidos numa declaração na rede social Twitter.
Também no Twitter, a embaixada britânica, por seu lado, referiu que a violência em Mindat "não pode ser justificada", pelo que as "evidências das atrocidades" devem ser enviadas para o Mecanismo de Investigação Independente das Nações Unidas para a Birmânia para que os autores possam ser responsabilizados.
Hoje, o jornal estatal New Light of Myanmar noticiou que a Junta vai criar um tribunal militar para julgar os "autores de ataques terroristas" em Mindat.
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